A INSIGNE FIGURA
É inevitável para muitos que pareça uma figura bastante remota, uma sucessora dos reis e rainhas da história. […] Não posso liderá-los na batalha. Não lhes dou leis nem administro a Justiça. Mas posso fazer outra coisa. Posso dar o meu coração e a minha devoção a […] todos os povos de nossa comunidade de nações.”
Isabel II na sua primeira transmissão televisiva (Natal em 1957)
Não se imagina como foi.Sabe-se apenas que foi marcante, tangível e que perdurou durante décadas.
Que foi referência e exemplo.De Mulher, Mãe,Avó, do que deve ser uma Senhora.
Por isso, a notícia da sua morte ensombrou o mundo,caíram espontâneas as lágrimas nos olhos de milhões, transcendeu países e continentes.Uma emoção sentida e global.
Isabel dos chapéus coloridos e quase exóticos, um exemplo vivo de contenção e coragem, de não deixar transparecer o desagrado, a fúria, os sentimentos.Nunca.
Teve que saudar tiranos, ditadores, manipuladores de massas, toda a espécie de gente presumida que julgou estar à altura da honra para se vangloriarem de regresso, após um breve encontro.
Ela que teve que renunciar para sempre à liberdade mais simples como obedecer a um impulso, sair para a rua e respirar o ar da noite.Ela que consagrou a sua vida a servir uma instituição milenar, uma Coroa, as Tradições, as atitudes consideradas mais nobres e elevadas.
Pasme-se com o rigor, a ordem e a pontualidade dos britânicos.As cerimónias, os rituais e os compromissos de honra, o saber engolir as afrontas, cumprir, seis ex primeiros ministros de pé a assistir à cerimónia da proclamação, chapéus ao ar e salvas de canhões.Falsa reconciliações mas execução impecável dos deveres reais.
Honra e glória do Reino Unido.
Noutros países, porém, os reis foram assassinados á traição.Num, em particular, a rainha no exílio já muito idosa também quis ser amortalhada com o vestido ensanguentado do assassínio do Rei seu conjuge e do Princípe, seu filho.
Vergonha e desonra raramente lembradas pelos atrapalhados e perdidos do jornalismo de serviço.
O povo britânico saiu à rua em luto pela sua excelsa Soberana e para celebrar a continuidade da sua dinastia.
Monárquicos, simpatizantes e não só assistiram ao vivo e em directo ao desenrolar das cerimónias.
Num mundo de guerras, intolerância, crime, abjecção e crueldade irremediável esse espetáculo igualmente tão criticado e vilipendiado ignobilmente não deixa de ser um breve vislumbre do que mais belo e digno o mundo consegue num momento.