Armando Valladares

 

ARMANDO VALLADARES

Miguel Carqueija

 

Um dos grandes heróis do século 20, o cubano Armando Valladares passou 21 anos tenebrosos preso nas masmorras infames de Fidel Castro, pelo crime de não aceitar que um adesivo do tirano fosse colado em sua escrivaninha. Retirado da companhia da mãe e da irmã, acusado do nada de ser um terrorista e conspirador, Valladares passou por sofrimentos inenarráveis que, não obstante, ele recontou em seu grande livro “Contra toda esperança”, desvendando ao mesmo tempo muitos segredos do Gulag americano.

Valladares foi preso em 1961, então na flor da idade, e libertado em 1982 após uma grande campanha do exterior, com a participação da Anistia Internacional e afinal com um apelo direto ao governo cubano pelo governante esquerdista da França, François Mitterrand.

Para aqueles que ainda acreditam que Cuba é o Paraíso Terrestre e que fascistas como Fidel Castro são heróis libertadores, vale a pena ler este livro comparável ao “Arquipélago Gulag” de Soljenitzyn. Transcrevo aqui trechos da introdução, onde Valladares bate a sujeira de forma estarrecedora:

 

“Em meu país há algo que nem mesmo os mais fervorosos defensores da revolução cubana podem negar: o fato de que existe uma ditadura há mais de um quarto de século (*). E um ditador não pode manter-se no poder durante tanto tempo sem violar os Direitos Humanos, sem perseguições, sem presos políticos e prisões.

Em Cuba existem, neste momento, mais de duzentos estabelecimentos penitenciários, que vão desde as prisões de máxima segurança até os campos de concentração e as chamadas granjas e frentes abertas, onde os presos realizam trabalho forçado. (...)

As situações de violência, a repressão, as surras, as torturas e incomunicabilidades são prática diária. Hoje, agora mesmo, centenas de presos políticos, por recusar a reabilitação política, estão nus há quatro anos (sic), sem assistência médica, sem visitas, dormindo no chão e fechados em celas cujas portas e janelas foram emparedadas.

Jamais vêem a luz do sol ou a luz artificial. Eu sou um sobrevivente dessas terríveis celas emparedadas de Boniato.”

 

(*) Texto escrito em 1985.

 

Rio de Janeiro, 6 de setembro de 2022.