MEU PAI
Guida Linhares
Meu pai foi meu grande incentivador para as letras, mas também para o questionamento. Ele cursou até o terceiro ano primário, mas possuía uma inteligência fora do comum e uma caligrafia belíssima, onde as letras generosamente pendiam para o lado direito, com rebuscadas maiúsculas.
Costumava pegar meus livros de história do Brasil e dizia que eles faltavam com a verdade e às vezes até escrevia nos cantos para que eu mostrasse à professora e isso na época me deixava apreensiva pelo que a mestra fosse pensar.
Ele passava as noites de insonia escrevendo muito. Dizia de suas idéias e críticas à política e remetia como cartas, que nunca tiveram uma resposta de retorno. Contudo algumas vezes ele comentava que idéias suas estavam nos jornais, e embora nunca tivesse sido apontado como o idealizador, já ficava contente por sentir que fez algo em prol de muita gente. Não sei se ele sintonizava o mundo das idéias ou se elas brotavam de sua criativa mente.
Aos meus nove anos de idade, ele me presenteou com a coleção completa de Monteiro Lobato e a partir daí fui me encaixando como parte integrante do Sítio do Picapau Amarelo, e apesar de gostar de todos os personagens, principalmente a tagarela Emília, era o Visconde de Sabugosa que me encantava com seus ditos filósóficos.
Se meu pai tivesse vivido o suficiente para adentrar ao mundo virtual, certamente ele teria seus espaços para reinar e compartilhar seus pensamentos e sentimentos, a sua crítica social, seus sonhos e idealismos.
Quando olho para a sua foto aqui na mesa do computador, me emociono e fico extremamente feliz por ele ter sido meu amado pai e ter ensinado, não só a mim, mas a toda a família que o amor é a mola mestra que impulsiona o mundo, e a alegria o grande tesouro que embeleza a vida.
Santos/SP/Brasil
29/03/15
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