Pai
Seu Joanin
O rosto dele se perde no tempo, mas a lembrança, não.
Era um homem simples, trabalhador, honesto. Feliz.
Pai severo, brincalhão nos momentos oportunos e se doava ao próximo.
Amava São Paulo e lá fez a vida, indo depois para Descalvado, parecendo adivinhar que não ficaria muito entre nós. Tocava o armazém e o moinho de fubá que comprara do pai. Ali trabalhava e, na quadra em frente, colaborava com as irmãs religiosas do Asilo São Vicente: trocava fiação, consertava chuveiro e separava briga dos idosos que ali viviam.
Uma de suas atividades preferidas era criar passarinhos, no viveiro que tinha no quintal. Naquele tempo, não era proibido.
Na época das laranjas-cravo, que creio não existem mais, era sagrado, para ele, ir até a chácara do Sr. Augusto Cerantola; ele se deliciava olhando os pavões e ouvindo o cantar das arapongas. Claro que eu, pequena, ia junto. Era delicioso caminhar ao lado do meu pai e observar essas singelezas que a Natureza nos oferecia. Depois de passarmos pelo viveiro do Sr. Augusto, nós descíamos pelo pomar.
Lá, ele tinha autorização para colher quantas laranjas quisesse: meio saco de laranjas-lima e completava com as deliciosas laranjas-cravo. Após completar, nós nos sentávamos no barranco, ele pegava o canivete, limpava a lâmina na perna da calça de brim cáqui e descascava a laranja em formato de óculos. Feito isso, carinhosamente, com amor paterno, ele colocava os “óculos” no meu rosto. Provávamos algumas laranjas e voltávamos para casa, sempre agradecidos e felizes.
Sei que muitas pessoas que vão ler este texto não o conheceram. Escrevo hoje como gratidão e por amor ao pai, Seu Joanin, que cumpriu direitinho a sua missão e partiu num dia 2 de junho... quando eu era ainda adolescente. Amor eterno, pai. ❤