MEU AVÔ DELEGADO

 

 

Logo após o falecimento de papai, tive a triste incumbência de fazer o inventário de seus pertences pessoais: roupas, calçados, livros, fotos e outros objetos. Também precisei separar todos os documentos para que um advogado procedesse ao inventário oficial dos imóveis, junto ao cartório. Uma tarefa ingrata, principalmente porque o falecimento era recente e o luto permeava meus pensamentos e atos. Mas alguém tinha que fazê-lo. Mamãe nunca se ocupou dos negócios da família, até a conta bancária era administrada por meu pai. Dos meus três irmãos, dois não moravam em Curitiba e o mais novo estava na Alemanha fazendo um curso, não veio para o funeral, pois não chegaria a tempo.

 

Buscando os documentos, encontrei papéis antigos de meus avós, que papai guardava. O que me chamou a atenção foram duas folhas bastante puídas, quase rasgadas, amareladas pelo tempo. Uma era a nomeação de meu avô paterno, Horacides Machado do Amarante, para exercer o cargo de 1º Suplente de Delegado de Polícia em Curitibanos – SC, datada de 21 de setembro de 1932. O outro, também nas mesmas condições do primeiro, datado de 24 de janeiro de 1933 o nomeia para o cargo de Delegado de Polícia na mesma localidade.

 

Foi uma grande surpresa pois nunca tinha visto esses papéis, embora soubesse que vovô fora delegado por um curto período. O Estado aparece como Santa Catharina, com h e o verbo nomêa. Assim mesmo. Assinam os documentos, o primeiro, o General Ptolomeu de Assis Brasil e o segundo, o Major Rui Zobaran, ambos interventores no Estado. Era a época do Governo Provisório de Getúlio Vargas, que impôs intervenção federal nos governos estaduais.

 

Tenho boas e doces lembranças de vovô Horacides. Alto, magro, moreno, olhos azuis, bonito. Além disso, alegre, sorridente, bem-humorado. Lembro que vovó sentia ciúme dele. Tive a felicidade e o privilégio de conviver muito de perto com ele enquanto eu crescia. Me chamava de mosquito quando criança, eu era magrinha e pequena de estatura. Morávamos no mesmo terreno e, assim, eu tinha acesso à sua casa a qualquer hora.  Vovô exerceu uma influência muito positiva em minha vida! Vou guardar sempre seu sorriso, com carinho e admiração, mas não posso imaginá-lo agindo como delegado, dando voz de prisão a um malfeitor ou atuando como uma autoridade da lei no município.

 

Enfim, guardei esses documentos e o que posso fazer agora é entregar esses velhos registros históricos ao Museu do Município que está sendo organizado.

 

 

 

Aloysia
Enviado por Aloysia em 17/07/2022
Reeditado em 11/08/2022
Código do texto: T7561778
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