Alejandro "Ole Brasil" Kowalski
Soube da notícia por Daniel Ferreira, um amigo de Encarnación, que viveu em Posadas, a cidade querida por Kowalski. Ligo para saber de questões de trabalho e aproveito para perguntar por Alejandro Kowalski.
- Ué, você não sabe?
Uma pergunta dessas já carrega adrenalina, mas ele nem esperou o calafrio chegar:
- Ele morreu.
Por um instante passa pela mente um filme. Nele, a figura do amigo constantemente em ação. Era o gestor cultural coordenando, lecionando, planejando, fazendo comida brasileira, dando palestras, cursos, aulas de português, escrevendo livros... e o reflexo é claro: isso é impossível! Aquele cara não era pra morrer, portanto é um engano, vocês já podem me acordar e acabar com essa brincadeira. Reflexões estranhas, conclusões descabidas, pois até o Universo vai se acabar, galáxia por galáxia, estrela por estrela, por que nos surpreendemos ainda com a morte?
É que é a morte de um amigo. Pois se acabou aquele gigante de sorriso cativante, filho de uma brasileira e um pintor polonês naturalizado argentino. Acabou-se num acidente de transito num cruzamento em Posadas, desconhecidas para mim – e assim vão permanecer: Cabo de Hornos e Tulo Llamosas. Conheço a Praça de Armas, onde tomava “submarino” nas noites de inverno, andei pela Calle Jujuy e outras no centro, com nomes das cidades e províncias argentinas. O cruzamento onde meu amigo perdeu a vida, ah, esse não quero conhecer.
Então, ele se acabou, bem antes do Universo, o antropólogo, comunicador, gestor cultural, educador e artista Alejandro “Ole Brasil” Kowalski, filho do pintor Zygmunt Kowalski, polonês naturalizado argentino.
Conheci “Ole” por volta de 2006 em Encarnación, Paraguai. Alejandro morava em Posadas, mas veio ao Vice-consulado do Brasil naquela cidade a propor organizar um curso de português para moradores da região. Dessa proposta, frutificaram outras ideias de divulgação do Brasil, paixão de Kowalski, e logo um ciclo de cinema brasileiro foi realizado no restaurante “El Tomato”. Foi o primeiro de uma série.
Professor de português, seus cursos eram concorridos por serem modernos e divertidos. Por isso, repetiram-se por mais dois ou três anos. Suas aulas baseavam-se em vídeos e os alunos aprendiam a cantar. “Ole” tinha sotaque, sim, mas era um português “quase” perfeito. Quando falávamos por telefone, eu sempre corrigia a mesma palavra: “lá”, que ele usava em vez de “aí”.
- Você vai estar “lá” em Foz do Iguaçu? Eu lhe explicava que, se ele está em Posadas e eu em Foz do Iguaçu, ele teria de perguntar-me “você vai estar aí? Ele entendia, mas logo se esquecia e voltava a errar. Mas era o único erro de português.
Pois desse encontro profissional nasceu uma amizade que o levou a idealizar promoções culturais e culinárias na região das Colônias Unidas, de colonização alemã. Alejandro gostava de culinária brasileira e era convidado a cozinhar em eventos na região,
Depois de minha mudança para Brasília em 2012, seguimos o contato por e-mail e WhatsApp e sempre o encontrava quando ia a Encarnación. No último contato por WhatsApp, há uns 3 meses, me perguntou sobre Santos, SP, pois estava planejando mudar-se para lá. Depois disso, não mais me contatou. Na semana passada, ao ligar para Encarnación por motivo de trabalho, perguntei por ele. E aqui termina a história como começou.
- Ué, você não sabe?