AVE EVA
Ela veio frágil filetando ar
Parecia que o sopro divino que no peito se inflama
Não chegara a acender o pequenino pavio da chama
De seu milimétrico invólucro pulmonar
Ela veio pincelada por um momento incisivo
De turbilhonamento transitivo que a terra vem passando
Por uma pandemia onde resolutamente tudo vai espalhando
Mais seres se vão dos que chegam neste ancoradouro intempestivo
Sua substancia divina e etérea foram resguardados
Ela da placenta foi pra outro platô de recuperação
Seu claustro de agonia passageira seu traçado traslado
A guarda angélica e o aparato médico lhes protegiam de prontidão
De quiçá uma hostess negra “Herodiana” do impetrado mal...
E lá aguardou sozinha sem seios e sem útero e sem augúrios
Em seu mais novo casulo “UTÍ-STICO” recebendo eflúvios
Sutis dos seres da terra, celestes e até do cabo da Nau
Que formaram uma egrégora senciente para lhes proteger
Seu corpinho franzino estava combalido
Mais não entregue e jamais derrotado em seu ser
Eis que o tempo de Janus senhor dos destinos
Revogou tudo a favor de sua vida e de seus mal formatados ossinhos...
E Eva começou a se encher de graças paladinas
Foi se restabelecendo se emoldurando na airosa
Força de Deus e dos recônditos anjos das sinas
E descortinou-se de seu véu placentário como uma rosa
E decidiu vir à tona num delírio lírico
Flor que desabrochou das entranhas do indelével
E palpitante rugiu como uma leoa de alto nível
E se recuperou da sombra do empírico...
E seu coração de amor o sol entoa nos altos Pirineus
Sibilante como um ser acolhido por Deus
Que a desvencilhou das frestas da noite vacilante
Mostrou-se guerreira valente entre os seres errantes
Os anjos se movimentaram e criaram sobre ela
Uma esfera onde mal nenhum penetra
Nenhum asceta do mal consegue sangrar lhe a ferida
Escurecer sua íris de luz centelhada e já de bálsamos aspergida
Para orgulho de seus terrenos pais na película da sofreguidão
Formando o embrião da exsudada sentinela protegida
Como a vela que acende sem o escrutínio da escuridão
E eis que Eva veio mostrando a que veio na veia
Do seio materno das ondas lácteas do destino
Das esferas seculares do mar da infinitude do amor
Trazendo bençãos e manás do senhor
Que guarda todas as estrelas no seu ninho
Como as pedras no mar do arpoador...
Como já diz seu nome que o tempo não corrói
"A que vive", "a vivente", "a que tem vida" ou "cheia de vida".
E o que Deus criou homem algum destrói...
Benvinda sejais teu hálito Eva...revivida
Do escapulário da natureza e dos elementais
Surge a pequena grande Eva
E eis que sublimemente se eleva
A pequena serva do Senhor dos ancestrais...
Ave Eva da qual todos no fundo somos filhos dela
Numa estranha contradição de parentela
Sem começo e tampouco sem fim
Agradecemos por estarmos no meio do seu jardim...
*Eva é filha de minha Sobrinha amada Fernanda e seu
esposo Ernani. Seres amados. (pequena homenagem).