A mulher que mais se parece com Deus
Não sei ao certo como ela chegou em nossa família, mas o que minhas tias me contaram é que Maria criou, junto com minha bisavó, uma dezena de irmãos, entre homens e mulheres, uma delas minha avó, Luzia, que hoje mora com Deus.
Maria e Nilza, a minha bisavó, eram muito amigas na juventude. Saiam para aventuras nos barzinhos da época, se divertiam, pulavam Carnaval, namoravam muito e sempre juntas. E juntas as duas vieram pra Teresina, especificamente na zona Norte, pra juntas cuidarem de cinco homens e cinco mulheres. Não sei muito sobre os familiares de Maria. Só sei dizer que a família Salvino acolheu ela como se fosse uma de nós.
Hoje, quem olha ela aos 96 anos de idade, não sabe a dor que ela sofreu ao perder sua grande amiga Nilza, que também mora no céu. Maria também sofreu com a dor de ver vários outros Salvinos falecerem. A que eu mais sofri, ainda muito pequeno sem entender o que era morte, foi da minha avó. Eu não tinha consciência do que essa família representava para a família.
Apesar de ser uma família com várias brigas internas, acolhemos e cuidamos de Maria com muito zelo porque ela cuidou, criou, ensinou cada um de nós com muito amor mesmo, apesar, de nosso código genético não compartilhar de nenhuma semelhança.
No casebre de taipa que ela mora não importa a hora que se chega, ela vai te oferecer o que ela tiver. Ela sempre que tinha uma banana me oferecia com muito carinho. E mesmo quando não tinha nada pra almoçar, ela pedia desculpas porque não tinha nada a oferecer.
Sempre lúcida e inteligente, ela tinha a mentalidade a frente do seu tempo, não tinha nenhum tipo de preconceito, se lembrava das datas dos aniversários de todos os familiares, se preocupava com todos que paravam pra conversar com ela.
Nos últimos anos, teve que se aposentar da cozinha e demais atividades domésticas por causa da idade e de outros acidentes em casa. Passou a receber cuidados e lamentava-se por não ter a rotina de antes de ir visitar os parentes ou ir a Igreja, mas ainda limitada em seus movimentos, preocupa-se com todos e continua a cuidar de sua forma.
Obrigado por me ensinar tudo sobre a vida, por cuidar de mim, e por me ensinar a ter fé nas pessoas. Quero ser um pouco de você!