MULHER BRASILEIRA
Bandeira brasil, mulher segura. | CanStock
Por Olavo Nascimento (08/03/2022)
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“Agora chegou a vez, vou cantar
Mulher brasileira em primeiro lugar.”
BENITO DI PAULA
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Sem deixar de considerar a importância da mulher em outras partes do mundo, aproveito este dia (8 de março) dedicado a elas, para reverenciar apenas as mulheres brasileiras que já gravaram o seu nome na história. As quinze personagens aqui mencionadas não são as únicas brasileiras que merecem ser lembradas nesta data, mas o intuito do trabalho é que elas representem todas as demais, famosas ou não, nesta justa homenagem. 
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Pintoras, escritoras, cantoras, políticas, pensadoras, relembre agora quem foram as mulheres que nos ensinaram a pensar de uma nova forma. Elas arregaçaram as mangas e mudaram o status quo. Polêmicas, revolucionárias, corajosas: essas brasileiras foram ícones nas suas áreas de atuação e merecem ser relembradas. Você sabe quem foram as mulheres brasileiras que entraram para a história? Vejam algumas delas.
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1. Cecília Meireles, escritora (1901-1964)
Cecília gostava de escrever e escreveu... muito! Foram mais de cinquenta obras publicadas! A autora começou a escrever quando era jovem - o seu primeiro trabalho foi publicado aos 18 anos - e, ao longo da vida, passeou por diversos gêneros: poesia, crônica, conto, ensaio, literatura infantil e didática. Apesar de ter explorado muitos estilos, Cecília acabou por se consagrar no universo da poesia e da literatura infantil. Além de escrever textos literários, essa mulher admirável foi professora, jornalista e fundou a primeira biblioteca infantil do Rio de Janeiro no ano de 1934. Essa brilhante escritora brasileira teve uma história de vida triste: o pai morreu um pouco antes do seu nascimento e a mãe faleceu quando a menina tinha apenas 3 anos. Sem pai nem mãe, Cecília foi criada pela avó materna. A poeta casou-se duas vezes, a primeira delas com um artista plástico português com quem teve três filhas.
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2. Chiquinha Gonzaga,
compositora, pianista e maestrina (1847-1935)
As mulheres fortes também se destacam no mundo da música. Chiquinha Gonzaga foi uma brasileira de vanguarda: compositora, pianista e maestrina. Conhece aquela famosa marchinha de carnaval "Ô Abre Alas que eu quero passar"? Então, é de autoria dessa moça! Filha de um militar com uma mulher mestiça, neta de uma escrava, Chiquinha teve acesso à educação de qualidade e desde cedo se mostrou fascinada pelo universo da música. Conhecida pelo seu gênio forte, a jovem casou com um homem oito anos mais velho com quem teve três filhos. Como o marido não apoiava a sua vocação musical, Chiquinha pediu divórcio. Pouco tempo depois casou novamente e teve uma filha. O casamento também não deu certo, mas Chiquinha conseguiu afinal ter o destino que tanto queria: viveu da música, viajou pelo país, compôs e deu aulas de piano. 
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3, Clarice Lispector, escritora (1925-1977)
Essa brasileira fenomenal era, na verdade, ucraniana, sabia? Clarice Lispector nasceu em Tchetchelnik, na Ucrânia, e veio para o Brasil com menos de um ano. Clarice fez Direito, trabalhou como redatora e foi, antes de tudo, uma apaixonada pela escrita. Autora de romances, contos e crônicas, Clarice é um dos maiores nomes da literatura brasileira de todos os tempos. Muitíssimo premiada em vida, seu nome era conhecido já entre os seus contemporâneos. Ainda jovem, a escritora casou com um colega de turma que virou diplomata e rapidamente se tornou uma cidadã do mundo tendo vivido em uma série de países. Com ele (Maury Gurgel Valente) teve dois filhos, mas acabou por se separar. Após o divórcio continuou escrevendo - e muito - para o jornal, além dos livros literários que publicava regularmente.
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4. Tarsila do Amaral, pintora (1886-1973)
Você certamente tem gravado na cabeça a imagem do quadro Abaporu, aquela tela com um cacto ao fundo e um protagonista com um pé enorme. Tarsila do Amaral é a autora dessa obra-prima, além de muitas outras obras que pertenceram ao Modernismo. Os trabalhos da pintora são em geral divididos em três fases: Pau-Brasil, Antropofágica e Social. Tarsila também fundou, ao lado de Oswald de Andrade e Raul Bopp, o movimento Antropofágico, um divisor de águas na cultura brasileira. Filha de uma família rica e tradicional, a pintora cresceu em fazendas no interior de São Paulo. Já aos dezesseis anos foi estudar artes plásticas fora do país, em Barcelona. Regressou para o Brasil, casou e teve uma filha. Separou e voltou a viver na Europa onde conheceu escultores, pintores, teve uma vida dinâmica e participou das altas rodas. Tarsila foi uma mulher a frente do seu tempo: experimentou viver em vários lugares do mundo, pintou como e quando quis, foi uma criatura pensante no universo das artes plásticas e teve namorados e maridos quando lhe apeteceu.
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5. Ruth Rocha, escritora  (1931)

Quem é que não se lembra das histórias contadas por Ruth Rocha? Sente o coração bater mais forte quando escuta as três palavrinhas Marcelo, Marmelo, Martelo? O livro infantil dessa talentosíssima escritora virou um best seller que cruzou gerações. Ruth Rocha nasceu em São Paulo e é autora de alguns dos maiores clássicos da literatura infantil que permeiam o imaginário coletivo dos brasileiros há décadas. Formada em Ciências Políticas e Sociais, Ruth Rocha sempre esteve envolvida com o universo das crianças. Ela começou a carreira trabalhando em uma biblioteca e logo virou orientadora educacional. Não demorou muito e experimentou escrever para revistas tendo afinal alcançado o cargo de editora de livros infantis. Quando resolveu virar autora em tempo integral a sua produção literária deu um boost espantoso! Atualmente Ruth Rocha conta com mais de duzentos títulos publicados e a sua produção já foi traduzida para vinte e cinco idiomas.
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6. Cora Coralina, escritora (1889-1985) 

Provavelmente você não sabe quem foi Ana Lins dos Guimarães Peixoto, mas com certeza já ouviu falar na Cora Coralina. De repente puxando pela memória você consegue até se lembrar de alguns versos dessa poeta goiana...  "Recria tua vida, sempre, sempre.", conhece? Cora Coralina, uma doceira que cursou a escola apenas até a terceira série do curso primário, criou uma poética do cotidiano, da singeleza, das pequenas coisas. Seus versos, tantas vezes delicados e profundos, só foram publicados pela primeira vez quando a autora tinha 75 anos. Pouco tempo antes, aos 70 anos, essa mulher espantosa resolveu aprender datilografia sozinha para organizar os seus poemas e enviar aos editores. Seu trabalho foi elogiado por Carlos Drummond de Andrade. Cora chegou a receber o título de Doutor Honoris Causa pela UFG e ocupou a cadeira número 3 da Academia Goiânia de Letras. 
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7. Lygia Fagundes Telles, escritora (1923)

Paulista, filha de um promotor com uma pianista, Lygia publicou o seu primeiro livro de contos quando tinha apenas 15 anos. Desde sempre a escritora soube da sua vocação e mergulhou de cabeça no universo da literatura tendo produzido enormes sucessos como As meninas. Formada em Direito, a jovem começou a escrever para os jornais e casou com um professor do curso, com quem teve um filho. Se na vida pessoal o casamento que durou mais de uma década acabou em divórcio, na vida profissional tudo corria de vento em popa: a autora continuou durante toda a carreira com uma produção voraz. O ano de 1963 foi muito especial para Lygia: casou-se com o novo marido e recebeu um prêmio Jabuti pelo seu segundo romance. Durante os anos setenta, aliás, a escritora colecionou prêmios literários nacionais e internacionais. Algumas décadas mais tarde, em 2001, alcançou o auge da carreira: venceu o Prêmio Camões. Quinze anos mais tarde outra grande surpresa: Lygia foi a primeira mulher indicada para o Nobel de Literatura. 
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8. Ana Néri, enfermeira (1814-1880) 

Menos conhecida do grande público, Ana Néri foi uma mulher essencial para a história do nosso país. Consegue imaginar a coragem dessa mulher que serviu como voluntária na Guerra do Paraguai?  A baiana nascida em 1814 casou com um militar e ficou viúva aos 29 anos, tendo criado sozinha os três filhos. Quando os filhos de Ana Néri foram convocados para a Guerra do Paraguai, ela não pensou duas vezes e escreveu uma carta ao presidente da província se voluntariando para servir como  enfermeira durante o conflito. Aceita, Ana Néri mudou para o sul do país e aprendeu tudo o que podia sobre enfermagem. Mesmo com poucos recursos e um número enorme de doentes fez um trabalho exemplar. Com os seus próprios recursos criou uma enfermaria em Assunção, no Paraguai, para atender feridos. Por uma tragédia do destino foi lá que perdeu um dos seus filhos.  Essa brasileira foi tão importante que chegou a ser condecorada e recebeu homenagens do imperador D.Pedro II. O dia do enfermeiro é celebrado até hoje no dia 20 de maio em função do dia da morte de Ana Néri, que perdeu a vida no ano de 1880. 
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 9. Rachel de Queiroz, escritora (1910-2003)
Rachel de Queiroz, uma cearense nascida em 1910, foi a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras e a primeira autora a receber o importante Prêmio Camões. A escritora no princípio da carreira já havia recebido o prêmio da Fundação Graça Aranha pelo seu primeiro romance, O Quinze, publicado quando tinha apenas 20 anos. O talento literário pode ter sido transmitido pelo sangue: Rachel era parente, pelo lado materno, do escritor José de Alencar. Filha de um promotor, a moça se formou professora com apenas quinze anos e colaborou com alguns jornais. Gostou tanto do ofício que seguiu escrevendo para os meios de comunicação, onde publicou mais de duas mil crônicas. Para além das crônicas também investiu nos romances e nas peças de teatro. Ativista, Rachel também tinha preocupações políticas. Em 1931 se filiou ao Partido Comunista Brasileiro e ajudou a implantar o partido no nordeste. Militante, a autora chegou a ser presa durante três meses. Falando agora da vida pessoal, Rachel casou duas vezes - a primeira com um poeta, a segunda com um médico - e teve uma única filha que morreu com apenas 18 meses. 
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10. Anita Malfatti, pintora (1889-1964)

A pintora acima foi um dos grandes nomes do Modernismo brasileiro. A artista plástica paulistana começou vencendo desafios já desde pequena: como nasceu com um problema no braço direito precisou aprender a usar a mão esquerda. Ainda jovem, Anita tentou se suicidar. Felizmente o plano não deu certo e ela renasceu decidida a se dedicar à pintura. Aliás, a pintura sempre esteve na sua vida: a mãe, pintora, foi a primeira a lhe ensinar a usar os pincéis e foi através dela que a família se sustentou nos primeiros anos, após a morte do pai. Depois de aprender em casa, Anita foi estudar artes plásticas na Europa e retornou ao Brasil para apresentar os seus quadros expressionistas. Entre eles talvez o mais famoso seja A Boba, pintado entre 1915 e 1916. Através da grande amiga Tarsila do Amaral, Anita participou da Semana de Arte Moderna e integrou o Grupo dos Cinco ao lado de Tarsila do Amaral, Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Menotti De Picchia. Com o passar dos anos a jovem alcançou visibilidade internacional tendo exposto em Paris, Berlim e Nova Iorque. Essa pintora brasileira teve um destino agitado, repleto de idas e vindas, a sua vida é um poço de histórias! 
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11. Chica da Silva, escrava alforriada (1732-1796)

Você já deve ter ouvido falar nessa corajosa escrava alforriada, possivelmente por causa da novela que narra a sua história. Mas a verdade é que a vida de Chica da Silva vai muito além do que a tv escolheu mostrar. Filha de um português com uma escrava, Chica da Silva foi comprada aos 22 anos pelo desembargador e contrator de diamantes João Fernandes de Oliveira. Ganhou a alforria e passou a viver com o seu antigo proprietário, mesmo não tendo casado oficialmente. Juntos tiveram 13 filhos. Mas engana-se quem pensa que Chica da Silva sofreu nas mãos do parceiro, a verdade talvez esteja mais próxima do avesso. João atendia a todos os caprichos da mulher, quer um exemplo? Como Chica não conhecia o mar, o amado chegou a construir um açude onde pôs um navio semelhante às grandes embarcações. O companheiro também deu à ela uma casa magnifica e uma série de escravos. Reza a lenda que Chica andava cheia de joias e só ia à igreja ao lado de doze acompanhantes. Depois de 15 anos juntos, o casal se separou. João Fernandes de Oliveira voltou para Portugal com os quatro filhos homens. As filhas ficaram com a mãe, no Brasil, e Chica passou a administrar a fortuna da família.  
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12. Maria Quitéria, militar (1792-1853)
No princípio do século XIX o Brasil teve uma militar no seu exército, uma verdadeira heroína na luta pela independência. Você já tinha ouvido falar da Maria Quitéria? Essa baiana filha de um português com uma dona de casa ficou órfã de mãe quando tinha apenas dez anos, a partir daí começou a cuidar dos seus dois irmãos e da casa. Independente, Maria Quitéria gostava de montar, de caçar e de manejar armas de fogo, mas não tinha qualquer interesse pela escola. Quando soube das lutas de apoio à Independência, em 1822, pediu autorização ao pai para se alistar. O pedido foi negado. Ainda assim Maria Quitéria não desistiu. Com a ajuda da irmã e do cunhado, cortou o cabelo, pôs uma roupa masculina, arranjou um nome falso e se alistou voluntariamente. Quando foi descoberta pelo pai, já o major responsável por ela não deixou que a moça fosse desligada do batalhão porque tinha um comportamento exemplar.  A jovem participou ativamente da defesa da Ilha da Maré, da Pituba, da Barra do Paraguaçu e de Itapuã. Foi um ícone de coragem e perseverança, apesar de ter morrido no anonimato. Na vida pessoal Maria Quitéria casou com um namorado antigo, um lavrador, e teve com ele uma filha.  
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13. Elis Regina, cantora (1945-1982)

Como falar em MPB e não mencionar Elis Regina? Tida como a maior cantora do Brasil de todos os tempos, Elis era um furacão no palco. Nascida no Rio Grande do Sul, a pimentinha, como era conhecida, começou a cantar com apenas onze anos. Aos 15 foi contratada pela rádio Gaúcha e, no ano a seguir, lançou o seu primeiro disco. A carreira de Elis decolou rapidamente e logo a cantora mudou para São Paulo. Queridinha do público e da crítica, Elis recebeu uma série de prêmios e era figurinha garantida nos programas de televisão. Um sucesso de vendas, Elis brincava entre os mais diversos gêneros: foi da bossa nova ao jazz, cantou MPB, rock e samba. Fez parceria com os maiores e não se intimidou quando esteve ao lado de Milton NascimentoTom Jobim e Ivan Lins. Na vida pessoal Elis teve dois grandes parceiros: Ronaldo Bôscoli (com quem teve João Marcelo Bôscoli) e César Camargo Mariano (com quem teve Pedro Camargo Mariano e Maria Rita). O destino desse grande nome da música foi trágico: com apenas 36 anos Elis partiu desse mundo vítima do seu vício com as drogas. 
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14. Irmã Dulce, religiosa católica (1914-1992)
Beatificada em 2010 pelo Papa Bento XVI, Irmã Dulce chegou a ser indicada ao Prêmio Nobel da Paz. Nascida na Bahia, filha de um dentista e professor, a menina batizada de Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes desde muito cedo demonstrou vocação religiosa.  Quando ainda era adolescente já ajudava os mais necessitados voltando o seu olhar para os mendigos e doentes. Aos 13 anos tentou entrar para o convento de Santa Clara, mas acabou por ser rejeitada por ser muito nova. Em 1934, aos vinte anos, tornou-se freira e recebeu o nome de irmã Dulce em homenagem à própria mãe (Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes). Irmã Dulce atuou em escolas, participou da criação de um albergue para doentes, procurou amparar os mais pobres. Em outubro de 2010 o Vaticano reconheceu um milagre atribuído à freira: ela teria curado uma mulher desenganada após o parto. Se um segundo milagre for reconhecido pelo Vaticano, Irmã Dulce será canonizada.
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15. Dandara dos Palmares, guerreira
Que Zumbi foi o líder do Quilombo dos Palmares todo mundo sabe, mas quantas vezes você ouviu falar de Dandara? Ela foi esposa de Zumbi e lutou ao lado dele pela libertação dos escravos.  Dandara foi uma guerreira negra do período colonial do Brasil. Após ser presa, cometeu suicídio em 6 de fevereiiro de 1694  se jogando de uma pedreira ao abismo para não retornar à condição de escrava. Zumbi dos Palmares foi seu marido e com ele teve três filhos.   Companheira de Zumbi, Dandara foi mãe de Aristogíton, Harmódio e Motumbo. Sua vivência enquanto mulher negra e de luta lhe caracterizou a alcunha de guerreira, visto que, além de dominar técnicas de capoeira, também lutou junto aos cerca de 30 mil aquilombados, comandando o exército palmarino. .
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POETA OLAVO
Enviado por POETA OLAVO em 08/03/2022
Reeditado em 08/03/2022
Código do texto: T7467733
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