Meu último dia com meu pai
Ontem, 20/07/20, segunda-feira era o meu dia na escala para ficar no hospital com meu pai. Meu pai, meu paizinho, meu amor, meu nenê. Quase dois meses internado devido a uma insuficiência renal que levou a uma insuficiência cardíaca entre outras coisas. Pudemos acompanhá-lo no hospital por causa de sua idade avançada, 71 anos, mas com muito controle e restrições devido a pandemia. Três filhas e um pai carinhoso, vaidoso, orgulhoso também. No início, tínhamos alguns constrangimentos mas, com o tempo e a necessidade, as barreiras que nos afastavam minimamente foram todas quebradas. Foram dois meses de muito carinho, amor, desafios que foram vencidos em parte.
Depois de três passadas pela UTI e duas quase altas, meu pai entrou em cuidados paliativos, foi difícil de entender mas, a equipe médica não mediu esforços para que compreendêssemos e os amigos e parentes da área da saúde nos orientaram muito bem sobre o que ocorria e o que ia acontecer. Por isso, quando cheguei no hospital e vi meu pai, eu entendi o que estava acontecendo. Então, eu aproveitei todos os segundos que passei com ele. Segurei sua mão, acariciei seu corpo frágil. Em dois momentos pude abraçá-lo, sentir seu cheiro, beijar seu rosto. Ele estava calmo, sereno como que esperando pelo momento em que ia de encontro ao Pai.
Observava seu rosto, sua respiração e pedia a Deus forças para viver aquele momento de despedida. Falei do meu amor e do sentimento de amor, orgulho e admiração das filhas, esposa, netos, irmãos e amigos. Cantei moda de viola pra ele, errei algumas letras e com certeza por dentro ele dizia para eu cantar direito a segunda voz. Agradeci por ter me ensinado junto a minha mãe meus valores e princípios que me fizeram ser quem sou como pessoa e profissional.
Abriu os olhos poucas vezes. Senti em sua mão uma leve pressão sobre a minha. Limpei seu rosto, falei de sua beleza e disse que ele não precisava ter medo, pois eu estava ali com ele. No mais, tudo deu certo com a providência de Deus. Inclusive, conseguirmos um padre e rezarmos juntos com minha irmã do meio que o trouxe e o Sr. João, o outro paciente do quarto. Depois de três horas que eu saí e o deixei com a minha irmãzinha, ele partiu sereno ouvindo moda de viola e segurando sua mão. Foi difícil passar esses dois meses com meu pai, mas também foi uma honra dividir com ele e com minha família tantos momentos que com certeza estreitaram imensamente nossos laços.
Eu te amo, pai. Obrigada por me ensinar a amar e a ser quem sou. ❤
Eliane