Vamos lembrar Guerra Junqueiro. Poeta portugues, que com tantos irmãos brasileiros, nas letras tornaram imortal a língua que nos une.
Guerra Junqueiro – Poema Selecionado:
O Melro
(trecho)
(…)
E quedou silencioso. O velho mundo,
Das suas crenças antigas, num momento,
Viu-o sumir exausto, moribundo,
Nos abismos sem fundo
Do temeroso mar do Pensamento.
E chorou e chorou… A Igreja, a Crença,
Rude montanha, pavorosa, escura,
Que enchia o globo com a sombra imensa
Dos seus setenta séculos d’altura;
O Himalaia de dogmas triunfantes,
Mais eternos que o bronze e que o granito,
Onde aos profetas Deus falava dantes,
Entre raios e nuvens trovejantes,
Lá dos confins sidérios do infinito;
Esse colosso enorme, em dois instantes
Viu-o tremer, fender-se e desabar
Numa ruína espantosa,
Só de tocar-lhe a asa vaporosa
Duma avezinha trémula, a expirar!…
(…)
E, arremessando a Bíblia, o velho abade
Murmurou:
“Há mais fé e há mais verdade,
Há mais Deus com certeza
Nos cardos secos dum rochedo nu
Que nessa Bíblia antiga… Ó Natureza,
A única Bíblia verdadeira és tu!…”
(Guerra Junqueiro – do livro “A Velhice do Padre Eterno