Vamos lembrar Guerra Junqueiro. Poeta portugues, que com tantos irmãos brasileiros, nas letras tornaram imortal a língua que nos une.

Guerra Junqueiro – Poema Selecionado:

O Melro

(trecho)

(…)

E quedou silencioso. O velho mundo,

Das suas crenças antigas, num momento,

Viu-o sumir exausto, moribundo,

Nos abismos sem fundo

Do temeroso mar do Pensamento.

E chorou e chorou… A Igreja, a Crença,

Rude montanha, pavorosa, escura,

Que enchia o globo com a sombra imensa

Dos seus setenta séculos d’altura;

O Himalaia de dogmas triunfantes,

Mais eternos que o bronze e que o granito,

Onde aos profetas Deus falava dantes,

Entre raios e nuvens trovejantes,

Lá dos confins sidérios do infinito;

Esse colosso enorme, em dois instantes

Viu-o tremer, fender-se e desabar

Numa ruína espantosa,

Só de tocar-lhe a asa vaporosa

Duma avezinha trémula, a expirar!…

(…)

E, arremessando a Bíblia, o velho abade

Murmurou:

“Há mais fé e há mais verdade,

Há mais Deus com certeza

Nos cardos secos dum rochedo nu

Que nessa Bíblia antiga… Ó Natureza,

A única Bíblia verdadeira és tu!…”

(Guerra Junqueiro – do livro “A Velhice do Padre Eterno

Quo Vadis
Enviado por Quo Vadis em 05/02/2022
Reeditado em 05/02/2022
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