Tirocinista, Fabriqueiro, Camareiro Secreto...
Fiz como você provavelmente fará, indo ao google, caro leitor... Mas mais que a informação fria, impessoal encontrada, dei um mergulho na memória visual e auditiva que já é de muitas décadas e embora esquecendo tanta coisa útil como um registro de cpf, ou um cep na hora de você despachar uma carta, pode responder até olfativamente...
Essas expressões acima foram encontradas numa das 55 biografias de eminentes cidadãos pitanguienses, natos e adotivos, reunidas na obra "Notabillis Persona", de José Messias Fernandes. O autor, que conheci apenas de vista e de encomiásticas referências, faleceu na flor da maturidade. Não sem antes de cumprir de forma intransigente o papel de guardião dos arquivos públicos da tricentenária cidade de Pitangui, MG. Já quase cego, Fernandes, então diretor do Instituto Histórico
da cidade, postou-se como um Sansão entre as vetustas estantes da instituição, ante uma nada estranha ameaça da então autoridade pública de se desfazer daquela "...papelada inútil..."
José Messias, de humilde origem fez coisa tão grandiosa, ou mais, quanto os seus 55 biografados. Se o seu latim soa grego para muita gente e a sua adjetivação chega a beirar a grandiloquência, o resultado de seu trabalho de pesquisa e publicação é surpreendentemente muito bom ao rememorar, ensinar e entreter o leitor, conterrâneo, sobretudo, preservando e exaltando orgulhosamente a memória de uma cidade. Pitangui o merece, e não o esquece.
E vamos ao caput deste texto: tirocinista, fabriqueiro e camareiro secreto descrevem as funções eclesiásticas de um talentoso e impetuoso jovem clérigo pitanguiense que incendiou púlpitos e corações nas fases iniciais de seu sacerdócio. Monsenhor Vicente Soares. Com o passar dos anos, refinou sua cultura e sua erudição escrevendo regularmente no Município de Pitangui - sua coluna chamava-se Respigos Históricos, posteriormente reunida e impressa em livro, denominado História de Pitangui, obra de interesse essencial para o conhecimento de nossas raízes, seus troncos, seus frutos, e naturalmente, por quê não, até seus galhos...
Um dos nossos excelentes cronistas, Joaquim Patrício, pseudônimo do Doutor Agenor Lopes Cançado Filho, em diversas passagens de suas memórias fez referências ao citado religioso e, numa delas, pelo menos, fala de um certo orgulho com que o Vicente ostentava a sua "...capinha de Monsenhor..." pairando acima de seus pares que não haviam - ainda - logrado tal distinção...