À SIDNEY POTIER COM CARINHO

À SIDNEY POITIER COM CARINHO

Heribaldo de Assis *

Não eras um professor na vida real – mas nos ensinastes tanto: nos ensinastes que um homem negro e pobre pode vencer através do talento, nos ensinastes que, para chegarmos a algum belo lugar, não precisamos derrubar, nem ferir, nem usurpar o lugar de alguém. Tua bela e eterna vitória também é a vitória contra o racismo, contra todos aqueles que insistem, estupidamente, em julgar um homem pela sua cor, pela sua aparência ou condição social. Tua vitória é também a vitória contra esse sistema perverso que marginaliza a pobre população negra e a relega ao esquecimento nas favelas, nos guetos – favelas nas quais crianças negras são mortas por balas perdidas. Quantas oportunidades um pobre homem negro tem? Talvez eu possa contá-las com apenas os dedos de uma mão – talvez nem isso! Fostes uma raridade: tornou-se o primeiro homem negro a receber o Oscar (o prêmio mais cobiçado do Cinema Internacional) – mas, antes de ti, existiam outros: outros que não tiveram a mesma sorte, outros que foram esmagados pelo cruel racismo! Outros que nem sequer serão lembrados pela História! Por isso és tão importante – porque carregastes consigo (na cor da tua pele) outros negros marginalizados, esquecidos, que não tiveram a mesma oportunidade. Na ficção fostes um professor: um professor que ensinava a alunos brancos e desajustados que é possível vencer o Sistema com talento, afinco, inteligência e afeto – pois temos apenas duas escolhas: fazer parte do Sistema e ser cruel, preconceituoso e corrupto como ele ou lutar contra o Sistema e ajudar a construir um mundo melhor: um mundo sem preconceito, sem segregação, sem armas e miséria. Talvez sejas o ator mais importante da História do Cinema por sua trajetória social e por tua luta racial pois Cinema não é apenas entretenimento: é muito mais do que isso – Cinema de verdade é ajudar a pensar, é ajudar a refletir, é ajudar a melhorar: o resto são apenas milhões jogados fora! Quando ouço a música To sir wiht love (música-tema de um dos teus filmes) eu sinto vontade de chorar – assim como emocionei-me quando assisti aquele filme pela primeira vez quando eu tinha apenas 10 anos de idade. E a letra da música diz: “se quiseres o céu eu irei buscar e te darei” – no céu, decerto, não existe racismo, não existe preconceito. Essa bela música será sempre um Hino pelo respeito aos grandes professores, um Hino de gratidão por todos aqueles que ajudaram-nos a melhorar... Por isso agora eu digo: para Sidney Poitier com carinho...

*Escritor, filósofo, poeta, compositor, redator-publicitário, roteirista, Licenciado em Letras pela UESC e autor do livro Redações Artísticas – a arte de escrever. E-mail: herisbahia@hotmail.com

Heribaldo de Assis
Enviado por Heribaldo de Assis em 07/01/2022
Reeditado em 08/01/2022
Código do texto: T7424326
Classificação de conteúdo: seguro