Sofria a Sofia...?
Um sofrer sem sofreios no limiar de sua senescência. Mas nunca reclamou das juntas que se afrouxavam a ponto de não mais suportar o seu próprio corpo. Que já fora tão ágil e sutil, como sói aos canídeos. E longa foi a sua existência, estimada em mais de uma quinzena de prima-fera...
E nunca deixou de ser doce e obediente - ma non tropo... Uma ou outra peraltice de dar uma espiada na rua, sentir e fruir os cheiros era-lhe salutar. E a volta era sempre certa, mesmo que tivesse que esperar pacientemente pela cancela a ser aberta. Ou algum ralho pela preocupação que causara. Que já lhe valia como uma vara.
Como os seus semelhantes vivia o pavor do espoucar de fogos das celebrações chamadas cristãs, das inaugurações de obras e dos acertos lotéricos... Maneira esquisita, esta humana dita, de se manifestar contentamentos, devia Sofia pensar em seus irreparáveis tormentos...
Mas mais que a ração, era a companhia humana, a sua predileção...atenta, dócil e paciente, a audição da voz humana lhe comprazia, e feliz mui feliz foi Sofia.
Ontem, num pós-natal lançou o seu último olhar. Agradecido, sem um gemido. Para jamais cair no olvido.