O petiz Luiz
Quando o seleiro curvelano Velusiano , vindo de Santana da Onça, chegou com Inhana e a meninada, ao povoado de São Gonçalo do Brumado, a coisa de uma légua de distância, um mundo novo se lhes descortinava. A fábrica de tecidos, a pleno vapor, porém naquele agora movida a energia elétrica prenunciava oportunidades de emprego para a moçada que, passada incólume pela devastadora febre espanhola e pelas peripécias cotidianas sofrevividas para se enganar a fome crônica, via agora chance de entrar na cadeia produtiva: Vicentina, Isabel, Rita, Conceição, Antônio, Maria...e até o petiz Luiz, ainda por completar três anos... E o ano da graça era 1924.
Aos sessenta e cinco anos de idade, com as sovelas e o vazador já quase inativos, Velusiano resistia em entregar os pontos, mas os tempos já eram outros. Inhana, sua quinta esposa - ao cabo de quatro inusitadas viuvezes - é que no vigor de seus trinta e tantos, garantiria o fogão, o quintal e a máquina de costura para manter a turma alinhada para enfrentar a algodoaria de "Fapa"...Dos filhos de prévias uniões, já criados, Chico e José, haviam ido tentar melhor sorte na Paulicéia, do Anhangabaú, do Viaduto do Chá, e do colosso do Martinelli...
Luiz, o caçula, é que - por enquanto - perambulava livremente pela casa, quintal e vizinhança, no dizer de Tia Vicentina, com os seus cabelinhos aloirados e cacheados... E não é que esse pirralho de então, completou ontem, 13/12 seu centenário de nascimento. Tivesse estendido um pouco mais sua existência, coisa de seis anos apenas, estaria celebrando conosco - Zezé, noves filhos e descendências... - a proeza de soprar cem velinhas. Ê saudade, pai...