HOMENAGEM PÓSTUMA A UMA PIONEIRA DA AVIAÇÃO COMERCIAL BRASILEIRA
É sempre chocante quando a gente recebe de supetão uma notícia ruim. De repente a pessoa amiga desaparece, por mais que a gente ligue para sua casa, por mais que a gente pergunte a um e a outro por onde anda a nossa amiga, ninguém sabe. Um mistério envolve este desaparecimento. Até que um dia a resposta vem de forma triste e sombria: TEREZINHA BACHA morreu. E a tristeza se abate sobre nós, afinal Terezinha fazia parte do nosso quotidiano, era uma amiga e mestra do nosso trabalho, era a história viva da aviação comercial brasileira. A gente se acostuma com um amigo chato, a gente se acostuma com uma fraqueza, a gente se acostuma com uma palavra não dita, a maldita palavra ruinosa que nos maltrata. Terezinha fazia diferente: grande dama da aviação, nunca soube ser chata. Fraqueza, em Terezinha? Apesar de seu porte frágil, ela foi a fortaleza, ela foi a certeza de que tudo iria dar certo. A palavra fraqueza não fazia sentido nesta grande mulher que deixou saudade. De uma coisa ela sabia ser: aprendera a se acostumar com amores perdidos, de um grande amor que lhe fora subtraído ela se acostumou, às duras penas... Tornou-se amor de todos nós na aviação da Cruzeiro do Sul.
Ruth, Gerda, Elzinha, Baradel e Terezinha, a estirpe das grandes damas da aviação brasileira. Desbravaram por este Brasil imenso, por sobre florestas virgens sobrevoaram, por meses a fio distantes do lar, levando civilização às regiões amazônicas, às regiões mais distantes das grandes cidades, elas foram, elas viveram, elas sorriram, elas sofreram, mil histórias para contar, mil atitudes pioneiras, mil venturas em brilhantes aventuras que pouquíssimas mulheres ousariam viver. Elas viveram, pioneiras se tornaram, arcabouço para um novo estilo de uma moderna aviação comercial brasileira. O DC3 fora a morada destas jovens de outrora, lento, heroico, combativo, por entre raios e trovões seguia seu destino, dono de um vigor de expressão, estas meninas dividiam as suas vidas com este pioneiro avião.
Sim, Terezinha, nós não nos acostumamos com a sua partida para sempre em um avião imaginário que nunca volta, nunca mais tornaremos a ver-te. Sem aquele teu sorriso brejeiro, sem aquele teu olhar cúmplice revestido de pureza. Aquela Terezinha uniformizada, toda pronta para cruzar os céus do Brasil, que depois ganhou mundo, nunca mais a veremos. Terezinha de todos nós, que nunca mais vai segurar em nossas mãos e dizer aos novos comissários de voo que podem ir, que podem prosseguir, que se errarem ela estará sempre ao lado de cada um lhe apoiando a sorte, em erros ou acertos, tornando-se amiga irmã, das horas certas e das incertas horas.
Comemoramos os 80 anos de Terezinha em um restaurante da Avenida Atlântica, um bolo a esperava bem como regalos, abraços e beijos. Terezinha não comparecia. Ficamos preocupados, ligamos para ela, a mesma já estava pronta para dormir. Esquecera do convite. Um de nós, decidimos, iria apanhá-la em sua residência no Posto 6, Edizio e Sapienza se dispuseram a ir. Foi uma noite memorável, foi o último encontro, regado a vinho, o eterno sorriso de Terezinha, o último adeus.
Lamento que a família de Terezinha não nos tenha informado sobre a passagem desta nossa muito amada companheira da aviação!
Minha grande amiga de sempre, eu sei que para onde te destinaste ir à última morada não existe internet mas o Onipotente Deus te passará esta mensagem. Descansa em paz, amiga. Mereces este descanso. A gente aqui vai orar por ti. Podes crer.
Como homenagem póstuma, nada mais apropriado do que colocar a Bachiana Número Cinco de Villa Lobos, que lembra a nossa floresta, na voz de Bidu Sayão. Com certeza, em uma de suas viagens inesquecíveis, Terezinha teve a oportunidade em atender esta dama do bel canto.
Carlos Lira