Eu quero a Jequi-é e a Jequi-será
Eu nasci na Rua da Banca em 1966. Naquele tempo só havia casas de um lado da via, e habitei um casebre de taipa, feita com varas e barro, coberta de palha. Era uma localidade distante, onde não passava transporte público nem havia saneamento básico, luz, pavimentação. A casinha era de aluguel e foi o primeiro ninho de minha vida. Recordo que passavam boiadas no Corredor de Antonin, na parte do fundo, fronteira com a capoeira, mato ralo, cansanção e outras espécies da caatinga, que estava a poucos passos e palmos do olhar. Na frente, calumbi, árvores de “CanJuão” ou São João, e outros arbustos, poeira, sol quente e o brega de Tete. Meu GPS marcou aquele pequeno território, como uma tartaruga que nasce numa pequena faixa de areia de uma praia isolada.
Os anos se passaram, eu tive que mudar várias vezes para casinhas onde meu pai podia pagar o arrendamento, até que fui parar numa fazenda em Itagibá, com a família toda, durante o exílio do papai. Ele se foi para São Paulo cuidar da saúde.
Morei nos piores lugares de Jequié, ruas e bairros abandonados por todos, com esgotos escorrendo a céu aberto, pobreza, fome e toda sorte de má gestão municipal.
Passei muita fome, de comida e de cidadania. Lutei uma luta gigantesca, vi e vejo muitos e muitas caírem por todos os lados. A insanidade do poder estatal descarta a população como lixo. Mas nunca desisti de sonhar, sozinho ou em conjunto.
Essa utopia me levou para a militância estudantil, político-social e lítero-cultural. No caminho, encontrei sonhadores, como Domingos Ailton, autor do poema que cito no título desta crônica. Um texto que rememora a riqueza e heroísmo da cidade passada, as mazelas presentes e o desejo de uma urbe acolhedora, justa, inclusiva e democrática.
Não renego o passado, mas este está intacto na história. O sempre ‘presente’ é tudo o que podemos apalpar e o futuro é apenas uma miragem. Neste texto o que tento fazer é mesclar as três dimensões do tempo histórico, e plasmar minha estrada circular nesta dimensão. Quero a cidade do passado, quero a cidade do presente e quero a cidade do futuro. Com a união de todos nós, poder público, sociedade, jequieenses de nascimento e de coração, podemos (re)construir pontes e fortalecer os laços de amor e fraternidade, para desfrutar a Jequié Tríplice do poema de Domingos Ailton: a da memória afetiva, a da realidade dura e crua e aquela que habita nossos sonhos.
Feliz Aniversário Jequié, Cidade Sol!