Nossa Senhora Aparecida

É da senhora de mãos negríssimas, que prendem generosas bênçãos e um rosário antigo. A crença, vinda desde o fundo de um rio barrento, diz de sua cabeça delicada e da junção perfeita do corpo, aparecido no emaranhado de uma rede de pesca.

Do amor do rio também nasceu a senhora de cabelos longos  cujos os filhos são peixes e são pescadores e são águas. É senhora de fino trato e bons perfumes, que empresta a cor de seu longo vestido para o mar.

Dele, do mar movento, ela sai altiva feito miss em passarela de areia. E vem devagar, de braços abertos, pisando em rosas e trazendo rente á testa, uma estrela de céu.

Lá, no céu,  ela é senhora da Conceição. É senhora do alívio, do amparo, da boa hora, boa viagem e boa morte. Senhora do bom sucesso e da consolação.

Eu, que sou senhora apenas de alguma fé, de um pouco de tempo, de pouco entendimento misturo-as todas, fazendo uma. Não tenho, como ela, céu para reinar e nem rio para ser peixe. Nem sei o que fazer nos dias de cinzas e de roxeamentos da alma.

Em necessidades de afago, recorro a uma mãe que mora no passado e no futuro dos céus.

Então, recebo o abraço terno da mulher que assunta altares e caminha a pés descalços que eu humildemente beijo. Depois, sigo em frente, acreditando que a senhora, nos dias amargos, empresta o doce azul de seu manto somente para mim.