SAUDADES ETRNAS VÓ ODETE

[...] A vida só acaba, quando [tudo] termina.

[...] Cada um tem o que cativa.

É com esses trechos d’um texto de minha autoria,

com um profundo pesar, no corpo e em Minh ‘alma

tão triste e cheia de melancolia, que eu desabafo

nessas maus traçadas linhas minha dor e agonia.

Acabou. Partiu para uma outra dimensão

Alguém cujo coração era maior que sua estatura.

Abnegada, desprendida de coisas que não edificam.

Cuidou de mãe, irmãos, sobrinhos, filhos, netos

Me educou como nenhuma outra professora

Me protegeu como faz a seu filhote uma leoa.

Ela era o meu porto seguro, meu ponto de referência

Mesmo nos momentos da mais tenra fraqueza

Ela demonstrava ser uma fortaleza.

Se ela tinha medos? Claro. Com certeza.

Mas eles não lhe impediram de lutar

Paralisar, titubear mediante a uma fraqueza.

Moldou o meu caráter, mostrou – me o que é nobreza

Foi graças a ela que eu nunca fui soberba.

O tempo não para; escorrega que nem água em correnteza

Ficava toda prosa, quando me elogiavam

As tias da escola, certa feita.

Esteve sempre presente, nas minhas alegrias e tristezas

Constantemente criticada, por quem não entendia

Seus gestos, atitudes e proezas.

Era mais que avó, segunda mãe – com certeza!

Ah, se todas fossem iguais a você, vó

O mundo seria uma beleza.

Sofreu muito. Também teve muitas perdas.

Mas nunca murmurou, blasfemou contra Deus

A sua fé sempre manteve acesa.

Exemplo de vida - nossa matriarca

Nunca mais haverá outra

Nesta ou noutra vida.

Sobreviveu a guerras, pandemias

Mas hoje, perdeu a batalha para uma

Doença que lhe usurpou a vida.

Não importa quanto tempo eu, viva

Nunca vou lhe esquecer minha querida

Dos seus conselhos, das suas broncas

De seu afago, seu cheiro na cabeça

No pescoço e no cantinho da orelha.

Só se passaram algumas horas e

já parece que fazem vinte anos ou trinta.

Por Deus, se eu soubesse que aquele era nosso último encontro

Que a senhora só estava me esperando para se despedir

Embora não me reconhecesse

Eu teria ficado mais tempo do seu lado

Teria lhe abraçado, beijado e dito o quanto eu te amo!

Pediria perdão, por não ter sido grato o suficiente

Por não ter sido mais obediente

Nem demonstrado o quanto para mi és mui importante!

Mas se estás me vendo e ouvindo de algum outro plano

Te peço vó não me abandones,

Veles por mim, interceda junto ao Pai

Vigie – me e não me deixe com o passar dos anos.

Os sonhos que tive na noite anterior

Nem podia imaginar que eram premonições

Mal sabia eu que vinte e quatro horas mais tarde

Aquelas vestes molhadas que vi em mano novo

Seriam de choros e prantos.

Ainda bem que voltei no corredor ao sentir no meu coração

O desejo e a vontade de tirar, pela última vez, ...

[sem saber], fotos com a senhora

Que servirão a Minh ‘alma de acalanto.

E pensar que cheguei a imaginar que na outra semana

Você voltaria para casa e viver mais uns anos...

Reles engano.

Mas vou guardar na cabeça a sua [última] imagem

Para mim sorrindo, como quem diz:

Vai ficar tudo bem. Eu também te amo.

Inda posso sentir as suas mãozinhas frias

Como que caindo a sua temperatura.

Sei que ainda é muito cedo, ainda não caiu a ficha

Mas, por enquanto dói demais essa ausência sua

Em tudo que olho, toco e vejo, tudo me lembra você

Perdão por não querer reconhecer ter corpo numa sala escura

Já foi difícil demais te ver deitado em um caixão, frio

E embora maquiada, com a pele escura

Fiz algo que achei que nunca seria capaz:

Tocar em tua pele fria.

Como doeu te ver sendo enterrada,

Dentro de uma gaveta escura

Voltar para casa e continuar a vida

Como se a vida continua.

Sua cama, seus pertences, permanecem onde sempre estiveram

Não sei até quando.

Não te disse adeus, só um até breve.

Espero viver como a senhora, muitos anos.

Sabe como é, morro de medo de ir pra esse plano.

Melhor nem pensar. Mas por hora, dá um abraço em meu pai

E diz também que tenho saudades e que eu o amo!

Obrigado minha avó por tudo que a senhora fez por mim,

Não serei suficientemente grato, nem que eu viva cem anos

Mas saiba de uma coisa: Já tô com saudades e eu te amo!

**

Adilson Adalberto

http://adilsonconectado.blogspot.com/

Adilson Adalberto
Enviado por Adilson Adalberto em 19/09/2021
Reeditado em 20/09/2021
Código do texto: T7346072
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