UMA LEMBRANÇA
Acho que é por ser setembro, mês em que ele fazia aniversário. Acho que foi isso que me fez lembrar dele. Se vivo ainda fosse estaria completando oitenta e seis anos. Fomos amigos, colegas de trabalho e muito mais. Cantamos juntos num conjunto de canto coral, e ainda brincávamos de compor músicas regionais e românticas. Isto na década de setenta. Chegou a gravar três discos, mas só para presentear aos amigos, nunca vendeu nenhum. Seu nome era José, mas usava o nome artístico de Calazans. Tenho publicado aqui no Recanto, um cordel onde conto a sua história. Deixo aqui, como uma homenagem, um de seus poemas:
CORAGEM NÃO ME FALTA
Meu patrão aqui tô eu
Sou das banda do Araripe
Trago nos ombro a enxada
E os braços pra trabaiá
Corage aqui não me farta
Cavo o chão que Deus criô
Faço lerão limpo mato
Cuido do boi no currá
Se voismicê tem trabaio
Não me negue não sinhô
Trabaio eu gosto patrão
Faz feliz um home
Como eu trabaiadô.
Ta aqui minha muié
Se chama Bastiana
Tão fromosa tão mimosa
Tem também meu cão de caça
Qui nói chama xaréu
Este é meu fio mai véi
A mãe gosta demai dele
É fio da sua bênça
O nome dele Tião
O outro Pedro aquele João
O incostado Gerardo
Migué com chapéu na mão
Tem mai Mané e Toin
Este pequeno é Lui
Me ajuda na ração do gado
É o caçula dos home
Sujeito desassombrado.
Chega pra cá menina
Qui é pra eu pudê dizê
Esta bonita é Anita
Ana rói unha e Riqueta
Avelina fala poco
Mai gosta muito de rezá
Dispoi dela vem Francisca
Incostada a caçula
De coca Bevenuta
A minina dos meu óio
Ta bom ou não meu patrão?
É toda minha famia
Arrebaiano a nói todo
Com eu dezesseis cabeça
Dezessete com xaréu.
Com trabaio arrezôvo tudo
O de cumê e o de vesti
Rancho pra nói morá
Vaca pro leite tirá
Pistola boa facão
Arado pra terra virá
Se o patrão me dá trabaio
Me diga:
Ô HOME, VÁ TRABAIÁ.
Calazans Sabugy