Uma Homenagem ás MÃES. Guerra Junqueiro.

Minha Mãe, Minha Mãe!

Minha mãe, minha mãe! ai que saudade imensa,

Do tempo em que ajoelhava, orando, ao pé de ti.

Caía mansa a noite; e andorinhas aos pares

Cruzavam-se voando em torno dos seus lares,

Suspensos do beiral da casa onde eu nasci.

Era a hora em que já sobre o feno das eiras

Dormia quieto e manso o impávido lebréu.

Vinham-nos da montanha as canções das ceifeiras,

E a Lua branca, além, por entre as oliveiras,

Como a alma dum justo, ia em triunfo ao Céu!...

E, mãos postas, ao pé do altar do teu regaço,

Vendo a Lua subir, muda, alumiando o espaço,

Eu balbuciava a minha infantil oração,

Pedindo ao Deus que está no azul do firmamento

Que mandasse um alívio a cada sofrimento,

Que mandasse uma estrela a cada escuridão.

Por todos eu orava e por todos pedia.

Pelos mortos no horror da terra negra e fria,

Por todas as paixões e por todas as mágoas...

Pelos míseros que entre os uivos das procelas

Vão em noite sem Lua e num barco sem velas

Errantes através do turbilhão das águas.

O meu coração puro, imaculado e santo

Ia ao trono de Deus pedir, como inda vai,

Para toda a nudez um pano do seu manto,

Para toda a miséria o orvalho do seu pranto

E para todo o crime a seu perdão de Pai!...

Guerra Junqueiro
Enviado por Quo Vadis em 29/08/2021
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