A porta
A porta
Quando falo na porta, logo me vem em mente as portas de madeira maciça da igreja São Francisco em João pessoa. Lembro-me que ao visita-la o que me impressionou em primeira mão foram as portas. As grandes portas de madeira, lindas, exuberantes e cheirosas. Sim! cheirosas. cheirei todas as portas. Eram inebriantes. Tinham um cheiro bom de estoria antiga, madeira bem tratada, aquele cheiro poderia estar em um perfume. Certamente eu compraria. O cheiro exalava em todas as madeiras presentes na igreja, nos bancos e altares, na capela dos escravos (foi lá que sentei e pude sentir o cheiro de todos os meus descendentes). Quantas pessoas passaram por ali e tocaram e sentiram e deixaram seu cheiro também. Quando me despedi abracei aquela grande porta de entrada que cheirava e estava ali desde 1717, certamente nela meu cheiro ficou e o cheiro dela veio em mim também.
Ela
a porta é humana
poderia ser madeira
mas é humana.
A beijei
e tinha calor,
A beijei
e tinha sabor.
Ela sorria
e não parecia
porta.
Só quando fizemos amor
a descobri frigida
ou rígida
como uma porta.
Ela
a porta
é humana.
O cheiro é bom,
O calor é bom,
mas,
É porta.
Á DRICA :)