O PATRIARCADO DO MISTÉRIO

Amigo Jefferson Dieckmann! Sei que nessa hora de perdas, nada conforta, porque a transmutação leva um pedaço da gente. Todos nós sabíamos o desvelo que tu dedicavas a tua mãezinha. E a perda de nosso ventre, do ninho que nos gerou, é um poço fundo do qual jamais saímos.

Eu sei por mim, especialmente nas horas de solitude, a da inquietação da saudade – a do colo ausente – que nos acompanha até a implacável data de nossa finitude.

Todavia, agora D. Maria se tornou estrela fugidia, aquelas que, no firmamento, parecem contas de um rosário de luzeiros. Terás, por certo, a partir de toda essa tristeza que ora te invade o coração, a certeza de sua eternidade, em espírito e verdade, a teor dos exemplos do Pai Maior.

Sei, porque te conheço de há muito – um irmão dotado de muitos valores típicos da bem-querença – que balbuciarás orações na fala silente e respeitosa, em prosa e verso, como já o fazes há tanto tempo.

Todavia, agora o trespasse coloca a tua estrela-guia num plano inalcançável, visto haver adentrado nos céus do etéreo, e, por ser poesia viva, única de tantas semeaduras, continuará te imantando para o bem e para o acréscimo em clarividência.

O Absoluto pervive no coração dos sensíveis porque é Ele o patriarca do mistério, a tábula rasa dos desesperos e inquietações, mitiga dores e aflições com o cântico consolatório assentado na fé e/ou religiosidade de cada um. Tu és um homem bom e nestes a fé tem guarida.

A comunidade da poesia brasileira está tristonha por tua dor física, porém todos estamos contigo, em santa aliança, para que continuemos a louvar o milagre da vida e o abscôndito convívio com a espiritualidade. Que, nos rituais de passagem, o Absoluto receba em seu regaço, a transmutação de Maria, tua mãe terrena, para o descanso eterno.

Em meu nome pessoal e familiar, bem como no da Casa do Poeta Brasileiro – POEBRAS Nacional, como seu coordenador, invocamos bênçãos a ti e tua digna família. Como sempre, estamos juntos, física e espiritualmente, cumprindo a saga dos condenados ao pensar. E nos parece que ainda há muito a fazer pela poesia e pelo ativismo cultural. Hosanas!

MONCKS, Joaquim. A MAÇÃ NA CRUZ. Obra inédita em livro solo, 2021.

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