Eugênio Gomez e a "Estrela Sueca"
De todos as grandes amizades que fiz nesta vida, a mais
curiosa é com Eugênio Gomez, médico e compositor radicado em Lavras, MG, nascido em Joinville, SC. Digo curiosa, porque nos vimos apenas por algumas horas, talvez no ano de 87 (nem disso tenho certeza), em circunstâncias tampouco muito claras para mim.
Digo claras, porque sempre pensei que tínhamos nos encontrado na casa do saudoso Jonba, o João Batista de Freitas, conterrâneo, amigo e parceiro musical, para comemorarmos, junto com Reinaldo Pereira, também parceiro, a dupla vitória de Eugênio no festival de música de Pitangui daquele ano. Ele havia ganhado 2º e 3º lugares com “Vênus Platinada” e “Casarão”, esta em parceria com Zé da Muxibenta, duas joias melódicas e literárias, ambas interpretadas pela excelente Christina Valle.
O 1º lugar ficou com “Clara”, de Kiko Lara e Ricardo Nazar. Mas ele me afirmou que nosso encontro não foi no dia da vitória, mas uns tempos depois, em outra viagem que fez a Pitangui. O local, ele confirma, foi mesmo a casa do Jonba, emérito anfitrião. O que conversamos... não lembro. Amnésia alcoólica? Pode ser.
Então, depois desse encontro em Pitangui, só voltei a falar com ele por telefone quando morei pela primeira vez em Foz do Iguaçu, aí no começo dos anos 2000. Lançamos algumas caravelas ao mar dos projetos, mas nenhuma vingou naquela época. Outra vez nos perdemos, cada um buscando, “em distante mar, uma estrela sueca”, como ele diz na sua fabulosa canção “Belo Horizonte”.
Outro intervalo de vinte anos e voltamos a nos encontrar, eu de novo em Foz do Iguaçu, ele em Lavras, favorecidos pelos milagres da comunicação atual e paralisados de viajar pela Pandemia do Covid-19. Com essa munição virtual, estamos refrescando a amizade por WhatsApp e-mail. Um tesouro que me enviou, o livro “Cartas da Juventude”, fez-me conhecer seus amigos da época de sua vida de estudante e ativista cultural no Curral d'el Rey. Aí me pergunto como não nos encontramos em Belo Horizonte no nosso tempo de faculdade?
Essa amizade astral poderia ter sido concreta, pois devo ter ido de sapato novo à mesma cinemateca, meu quarto no bairro Colégio Batista não batia sol e andei por festivais de música, concursos de literatura, nas volutas das melodias e nas metáforas das letras. Naqueles idos de 60 e 70, também virei bancário, a sorte é que os bancos não arrumaram a minha vida, o que me fez buscar a “estrela sueca” na Dinamarca e outros rincões desse mundo, na vida de viajante que tinha me proposto desde a infância.
Nessas idas e vindas, seguimos juntos na admiração pela música, literatura e conhecendo o trabalho um do outro. Antes, só sabia dele pelas duas músicas ganhadoras daquele festival de Pitangui e pela admiração que tinha por “Nossa Casinha”, melodia do Reinaldo e letra minha. Mais recentemente, pela correspondência já mencionada nas “Cartas da Juventude” e pelas letras e melodias dos dois CDs que me enviou: “Clube dos Artistas”, interpretado por Christina Valle, e “Terceiro Amor”, por Eliza Paraíso.
Hoje, 30 de junho, é seu aniversário. Exatamente um mês depois do meu, a mesma idade. Ao amigo Eugênio Gomez, dou hoje meus parabéns e lhe desejo muitos anos de vida e inspiração para continuar compondo. E me arriscaria a dizer que já alcançamos a “estrela sueca” muitas vezes, seja lá o que for. E lhe garanto que ainda é tempo de lançar novos desafios, inclusive compormos juntos ou editarmos trabalhos antigos. Topas?