QUANTAS SAUDADES! - em referência ao Dia das Mães
Os acontecimentos dessa última semana parecem corroborar com a ideia de que ninguém no mundo é predestinado a sentir SAUDADE com a mesma intensidade que nós!
Claudio Chaves
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EU não me lembro qual a primeira palavra que ouvi de minha Mãe. Mas lembro a última: “sim”. Exatamente. A última palavra que ouvi de minha Mãe foi um “sim”. Na verdade, mais um gemido do que uma palavra propriamente. Foi tudo que ela conseguiu exprimir como resposta a uma última pergunta que lhe fiz.
HOJE não está sendo fácil escrever a Crônica Dominical. Sinto-me envolvido num clima um tanto perturbador...mais ainda porque, mesmo não sendo cético, tenho dificuldade de acreditar em coincidências.
MAS como não questionar, ou pelo menos se perturbar com tantas conexões simultâneas?! São muitas SAUDADES – ou seriam muitas brasilidades?!
NÃO sei!
AMANHÃ, 10 de maio, completarão 3 anos e um mês do falecimento de minha mãe, Dona Luzia de Almeida Silva.
“SIM”, ela me disse, exprimindo em um gemido tão cortante toda a dor e o desconforto que sentia naquela madrugada fria quando a perguntei se queria que eu a mudasse de posição no leito. Foi a última vez que ouvi algo de minha mãe. Menos de duas semanas depois, ela descansaria em definitivo de suas angústias terrenas depois de 5 anos de uma luta hercúlea contra o câncer de pulmão (mesmo nunca tendo fumado nem convivido com fumantes no círculo da família). Eu não voltaria mais ao hospital – a não ser, acompanhado de um dos meus irmãos, para retirar o seu corpo. Meu problemático sistema imunológico reagiu mal às noites frias na enfermaria, mesmo revezando com meus irmãos e sobrinho – contraí uma pneumonia grave (mais uma), e quase fui internado também.
SIM. Para quem não sabe ou não lembra, SAUDADE é uma das palavras mais brasileiras. Na verdade, segundo a pesquisa do professor Tim Lomas (Universidade de Londres), além dela, apenas mais duas na Língua Portuguesa são praticamente intraduzíveis, tão intimamente características são da cultura lusófona.
A TRADUÇÃO, em si, até existe. Em espanhol – que, assim como o Português, deriva do Latim, se pronuncia “Soledad”. Mas o significado do termo só ocorre nas culturas de fala portuguesa; daí a dificuldade de tradução. É como se ninguém mais no Planeta sentisse saudade como nós, os povos de fala portuguesa.
“DESEJO melancólico ou nostálgico por uma pessoa, lugar ou coisas, que estão longe, quer no espaço, quer no tempo. Uma vaga de nostalgia que sonha, por vezes, com fenômenos que podem mesmo nem existir”. Assim o pesquisador Lomas define o sentimento de nós, brasileiros, em relação à saudade.
O QUE dizer da SAUDADE de minha família 3 anos e um mês depois?
O QUE dizer da SAUDADE das centenas de milhares de famílias brasileiras atingidas tão diretamente pela pandemia de covide-19 em pouco mais de um ano?
E A SAUDADE que sentirão os habitantes de SAUDADES-SC depois dessa trágica semana das mães para a cidade brasileira que, de tão pacífica, as autoridades policiais não conseguem lembrar do último boletim policial de violência antes da desgraça que se abatera sobre a população na última terça, 04/05, com o pavoroso quíntuplo assassinato das educadoras Kelli Adriane Aniecevski (30 anos) e Mirla Amanda Renner Costa (20 anos) e dos infantes Sarah Luiza Mahle Sehn, Murilo Massing e Anna Bela Fernandes de Barros, (todos com menos de 2 anos)?
E A SAUDADE da mãe de Fabiano Kipper Mai, que terá de conviver com a “morte” do filho assassino, mesmo que ele continue vivo?!
E A SAUDADE de Dona Déa Lúcia Vieira Amaral, mãe de Paulo Gustavo – justo ela que inspirou Dona Hermínia, incentivou e apoiou o autor e ator da personagem que se tornara xodó de milhões de filhos e mães (e famílias inteiras) em todo o Brasil?! Dona Hermínia, que era uma peça – tudo começou com uma peça (de teatro) –, tinha que nos pregar essa peça?! E justo essa semana?!
QUANTAS SAUDADES!
OS (TRÁGICOS) acontecimentos dessa última semana parecem corroborar com a ideia de que ninguém no mundo é predestinado a sentir SAUDADE com a mesma intensidade que nós!
QUANTAS SAUDADES!
A PROPÓSITO,
FELIZ DIA DAS MÃES - inclusive pra Anna Jarvis (em memória) que, mesmo não sendo mãe, como filha, morreu pobre depois de gastar todas as economias lutando contra a comercialização da data idealizada por ela e suas amigas em resposta ao desejo de sua mãe!