A menina que usava VANS.
Sabe aquela vontade de ficar pra sempre com a pessoa que a gente ama?
Aquele sonho da casa que a gente ia ter, com o cachorrinho fazendo bagunça, roendo aquele tênis novo, fazendo xixi fora do jornal, sonho daquela viagem pras ilhas Maldivas, e tantos outros objetivos em comum.
E de repente, em uma tarde estamos olhando o por do sol na plataforma, eu sempre elogiando aquele corpo lindo que ela tem, incentivando ela a tirar foto igual aquelas blogueiras tiram de biquíni, e inaceitavelmente no outro dia o nosso mundo vira de ponta cabeça.
Aquela discussão que parecia ter solução no dia seguinte, quando a gente já estivesse mais calmo, sem perceber o sonho se acaba, um sempre acaba conseguindo agir com a cabeça e deixa o sentimento de lado, deixando o passado para trás, ou pelo menos um pouco dele.
Mesmo eu sendo aquele namorado que mimava ela, desde aquela luminária em formato de lua, do chocolate quente no inverno quando ela estava doente, dos pequenos detalhes que eu amava cuidar dela, do pãozinho de queijo com todinho que eu levava todas manhãs no trabalho dela, da remedinho e chocolate, pro "dinossaurinho" parar de comer o útero dela na tpm kkk, e de tantas outras coisas que eu adorava fazer.
Espero que ela nunca aceite nada menos que isso, pois pra mim ela é uma princesa, merece ser amada e tratada como tal.
Então a gente acaba perdendo o chão, o medo aparece dentro dessa pessoa valente que eu pensava que era, o meu estomago parece dar milhares de voltas dentro de mim mesmo, bem diferente das borboletas que ali habitavam, causando uma dor desconfortável, que eu já havia sentido antes, mas da mesma forma uma dor nunca antes sentida, fazendo minha coragem voltar e meu orgulho sumir e ir atrás dela que sempre me confortava, me fazia bem, era uma base e um porto seguro, minha melhor amiga, minha parceira, a minha guriazinha de VANS, e essa pessoa simplesmente não estar mais ali, e eu fiz de tudo para trazer ela de volta, ao menos parecia o suficiente, mas não o bastante para juntar os cacos e retomar o caminho, juntos.
E é nesse exato momento que meu coração é partido, eu fiquei arrasado, procurando um só motivo, dentre os vários que tiveram, e conforme a gente pensa o tempo passa, e com isso vem uma distância enorme, um abismo irreconhecível entre nós dois.
Sem saber, sem conseguir achar uma saída, eu acabei esperando o tempo resolver tudo no meu cantinho, na esperança de algo mudar, mas nada mudava, nada mudou, alem dos dias que se acabavam toda hora que eu olhava no relógio, já era meia-noite, e mais um dia se acabou, mas amanhã é um novo dia, e aquela esperança vem de mansinho nos dar boa noite e dizer que tudo vai mudar amanhã, e se não mudar tem outros dias ainda pela frente.
E é alimentando essas falsas esperanças por vários dias, que os dois lados da história vão se tornando inacreditavelmente estranhos.
A minha barba começa a crescer e ela fica mais bonita a cada dia que passa, e a gente começa a procurar novas coisas pra fazer, novos hábitos, e ela procurando sempre uma distração, cada um sai pro seu lado vivendo suas vidas, cada um fazendo suas escolhas, conhecendo novas pessoas, novos lugares.
Até que um dia eu descubro que a tal pessoa que eu queria ter um futuro junto, que era o amor da minha vida, acabou nessas aventuras e descobertas conhecendo uma outra pessoa.
E é aí que meu coração se parte de novo, como se tivesse passado em um moedor de carne, o estomago se embrulha, sentimento de perda, saudade, nojo, raiva se acumula, o sangue ferve igual uma erupção daquele vulcão que a gente sonhava em subir, lá no Havaí, as esperanças se acabam, e a gente percebe que saudade demais atrapalha tudo.
Enquanto era só saudade, existia só um tempo nos separando, mas saudade demais não traz ninguém de volta, apenas significa um espaço entre duas pessoas que se amam e acham que nada mais tem solução, a não ser tentar mostrar que eu parecia bem sem ela, me divertia mais, saia mais, ria mais, vivia mais, mas isso foi tudo em vão, porque a comida não tinha mais gosto, os lugares não tinham mais cor, o por do sol já não brilhava mais, a lua já não era mais tão bonita, as estrelas sumiram.
E no meio de toda essa competição que eu mesmo criei dentro da minha cabeça, um ficou em terceiro lugar e o outro em segundo, porque mesmo estando com outra pessoa, seguindo a vida, fazendo coisas que nunca a gente fez juntos, dando grandes passos pra frente, o meu maior inimigo sempre vai ser a memória, aquela que não se apaga nem depois do décimo copo de vodka com energético, e nem depois de acordar pela primeira vez sem pensar nela.
E a gente começa a compreender, que mesmo daqui a cinquenta anos alguém vai falar o nome dela, e eu ainda vou saber quem é, como um gatilho disparando um tiro de doze na memória.
Eu li em algum lugar que o amor é igual um elástico, o primeiro a soltar sempre machuca o outro, e essa frase é a maior verdade que existe, e mesmo que essa pessoa faça parte do meu passado, de alguma maneira acho que sempre vou sentir falta dela!
Agora estou aprendendo a conviver com isso, porque já dizia a minha vó: Ninguém morre de amor.
Pulei da cama, sequei as lagrimas, sacudi a poeira, deixei a preguiça de lado, esqueci a solidão, e fui viver a vida, pois dias melhores sempre acabam chegando, e eu ainda preciso conseguir o meu primeiro lugar, em busca de um amor calmo e sereno, tranqüilo equilibrado, mas sobre todas as coisas, recíproco.
Izak Streb