Ao amigo Manuel Lourenço

Conheci o Manuel (com nu como frisava sempre) Lourenço na adolescência quando minha família retornou a Mandaguaçu (sou filho de Mandaguaçu). Naquela época trabalhava na marcenaria do Sebaldo que ficava em frente à casa comercial do seu Carlos Dias e dona Maria Celeste pais do Manuel, exemplo de vida e empreendimento que ele copiou e seguiu. O Manuel andava de bicicleta entregando mercadorias dos fregueses pela cidade. Jovem comunicativo, simples, conversava com todos, emanando uma grande simpatia. Notava nas vezes em que via a imitação de seu pai que colocava a caneta atrás da orelha, uma característica dos comerciantes lusitanos, aliás foi uma das primeiras palavras que procurei no dicionário, quando tive acesso a um. Vi a construção do sobrado na esquina ser erguido e alguns anos depois fui para o Bradesco, tempo depois fomos colegas; de colegas a amigos foi um pulinho. O Manuel fez uma carreira rápida, indo para a área de expansão, onde fazia o que mais gostava, conversar, dialogar, contatar o povo, papear eu dizia, e, nos finais de semana e as vezes a noite jogar bola. Apesar de não gostar algumas vezes era convencido a acompanhá-lo. Sempre que podia me oferecia carona e ficávamos até tarde conversando. Tinha uma conversa mansa, bom ouvinte e envolvente. As crianças estavam sempre juntas e as famílias também, era gente de casa. Infelizmente em um desses encontros ocorreu o acidente do Juliano, que é difícil de dizer, mas, abalou um pouco nossas reuniões, e óbvio as transferências, mudanças e as vicissitudes da vida também contribuíram. O amigo que é amigo, quando encontra é como se não houvesse um lapso de tempo na separação e alguns anos entro no deposito de material de construção aqui em Londrina e me deparo com o Mané do Bradesco, meu amigo, meu irmão. Claro que não recusou vir jantar conosco, ficamos horas trocando figurinhas, colocando o papo em dia, relembrando os acontecimentos do passado, dos amigos, do Paulinho do Castelo Branco, da família, minha dele, dos netos. Foi um dia memorável, retornamos no tempo, quando me dava carona e me levava em casa, fantástico. Mal sabíamos que seria o último encontro. Faz alguns anos que ocorreu. Depois disso alguns acenos virtuais, um amigo ou outro dizendo que o encontrou e que sentia saudades. Escrevi um livro de poesias recentemente, comecei a divulgá-lo e foi, através dele que nos reconectamos virtualmente e novamente houve a troca de informações, de atualizações de nossas vidas, pude observar o grande orgulho que ele tinha de sua família, da construção de vida, do desenvolvimento profissional e pessoal dos filhos, do cuidado com sua esposa, do amor devotado aos netos e netas. Pude sentir mesmo que virtualmente que o amigo era o mesmo, bom ouvinte, fala mansa e envolvente, o meu amigo de sempre. Passou-se alguns dias e tive a informação de sua doença, claro ele não se comunicava mais, queria informação e solicitei ao seu filho Juliano, que relutei ao longo dos anos, por sentir-se culpado pelo acidente, pela irresponsabilidade na época, que o fez sofrer. Mais uma vez, a intervenção indireta do amigo me fez aproximar de seu filho, um grande homem. Senti a via-crúcis do meu amigo Manuel, seu sofrimento, sua luta para esta doença do século, que infelizmente o levou. Choro a perda de um ente, de um parceiro, de um guerreiro, que se soubesse lá em fevereiro quando nos falamos teria prolongado mais e mais nosso papo. Não há mais tempo. Quando escrevo algo, procuro ser suscinto nas frases para que caiba em uma página. As pessoas não tem mais tempo de ler, como não tem tempo e no momento nem pode reunir presencialmente com os amigos. Amigos tenho poucos e sempre digo que são contados nos dedos e amo a todos eles, e continuo mais do que nunca amando aqueles que partem, por que agora sim os tenho guardados no coração. A família do meu amigo Manuel minha solidariedade, viva o luto em toda sua plenitude e tenha certeza de que ele está cuidando de todos vocês, admirando e os amando como sempre fez. Ao Manuel Lourenço meu amigo que choro a perda também, apenas foi na frente abrir e preparar com cuidado e zelo nossos caminhos, meu abraço, fica em paz, até um dia.

Luiz Carlos Zanardo
Enviado por Luiz Carlos Zanardo em 09/04/2021
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