A FLOR
Quando a conheci, era a flor mais bela do jardim. E também a mais alegre. Assim que, desde o primeiro momento que a vi soube que essa flor, devia ser cuidada com muito respeito. E fui tão feliz quando me estendeu sua mão, que quase achei Deus me tinha remido de todas as minhas profundas caminhada incertas.
Ela era assim bela por nascimento, livre, natural, de alegria sempre gentil, aberta a viver e dar a vida, nos aromas da sua beleza. Soube, que tinha que esmerar-me em seu cuidado... Mas, aí pobre de mim, eu não era jardineiro... E ela, não pude antecipar, que ao estender a meu coração sua mão, todas as minhas cargas, entravam na vida dela.
Mesmo assim ela aceitou, e esse foi um presente, que nunca poderei pagar, por muito que os anos me deram licença.
E aconteceu o que tinha que acontecer: falto de experiência no cuidado de tão primorosa flor, cheio de medo, por causa de não acertar a viver a vida, carregado de ignorâncias... Aconteceu, que... Chegou a tempestade, e eu me retirei do jardim por medo, a ser levado pelo vento. Mesmo assim ela permaneceu fiel, renovou seus votos comigo naquela primavera.
Chegou o abrasador sol, e eu com medo a queimar-me, me refugiei debaixo das frondosas árvores... Apesar de tudo, ela no outono, ainda me sorria e permaneceu cumprindo sua palavra, de jamais abandonar-me...
Prometi estar mais atento, não deixar-me intimidar pelas lógicas inclemências. São cousas dos ciclos da vida, e das mudanças no tempo... E aconteceu, o que tinha que acontecer, chegaram as chuvas, e por mais que laboriosamente trabalhei; meus conhecimentos errados não puderam impedir, a auga levar os muros que tinha construído em torno da nossa comum esperança.
Senti-me um fracassado, e ela sorrindo para mim, me lembrou que somente fracassa aquele que não tenta... Mas eu, por muito tempo me senti um jardineiro sem capacidade para defender a flor mais poderosa, que eu jamais tinha conhecido. Aquela flor, com tal capacidade de resiliência, seguiu permanecendo junto a mim, mesmo quando os assassinos do amor, chegaram a nossa casa, com suas tesouras para cortar toda flor, que pudera dar renovados fôlegos a maltratada natureza.
Mas, apesar de eu não poder impedir a desfeita, Ela não pode ser cortada, sua raiz era mais forte que qualquer tesoura ingrata... E, mesmo a pesar desta falta de coragem, ela ainda permaneceu comigo, ajudando-me a levantar, da relva onde eu tinha caído...
E, assim durante anos e anos, ela suportou todas as minhas falhas.
Não sei se um dia eu conseguirei ser o jardineiro que ela merece, mas não deixo de tentar, por que a amo profundamente. Sem ela como eu poderia ter chegado aqui, no meio deste páramo desabitado, triste e íngreme as vezes. No meio deste deserto tentei criar um jardim, mas foi ela, a linda flor, que trouxe o amor que fez crescer a semente.
Tudo o que tem a ver, aqui com gestação, foi graças a fertilidade de seu ventre. A semente que eu depositei, nem tão sequer fora comprovada antes. E dela medrou, graças a seu amor, toda quanta bela planta, podeis ver, arredor desta nossa morada. É muito humilde este reduto verde no meio desta terra tão cheia de amargas pedras, mas ainda assim é um refúgio construído com tanto amor, que ajuda a outros muitos, a tentar também criar pequenos locais ganhados pelo verde... Amor é o único que precisa este lugar, e, esse amor sempre foi pousado no chão por ela, a linda flor, que minha veu graças a poder dos anjos...
Seria muito longo agora enunciar, tantos e tantos erros cometidos pela minha tropeça diária.
Mas seguro que a esta altura vós já imaginais que a bela flor, sim, é em realidade a minha Margarida, amada mulher, a quem tudo devo em realidade.
Mas nada agora tenho a dizer, vós bem sabeis a luz que ela o mundo trouxe. Quando entra no quarto antes de dormir, eu sinto de novo renascer, dentro de peito, os aromas da primavera...