A Professora

Elidia era uma menina magrelinha, franzina e tímida que vivia num bairro simples e brincava na rua com seus amigos e sempre que podia, brincava de escolinha e, ela era sempre a professora. Sua mãe trabalhava de servente limpando a escola do bairro e ela ia junto ajudar e voltava para casa alegre com um saquinho de tocos de giz. Tinha brancos, coloridos e já era o suficiente para umas aulas na nossa escolinha. Guardávamos o papel de embrulho do pão diário para fazer nossas tarefas. Na escola tinham os alunos carentes, que eram da Caixa, recebiam materiais gratuitamente e ela achava aquilo lindo: cadernos brochura, caderno de desenhos, canetas, lápis, lápis de cor, borracha e apontador. Ela ajuntava os tocos de lápis, lápis de cor achados pela escola e guardava para a famosa escolinha.

Um certo final de semana resolveu brincar de escolinha e o giz acabou. Tiveram a ideia de escrever com carvão, mas como na tábua não ficava bom, resolveu escrever na parede lateral da casa dona Jandirinha, pois estavam no quintal da casa deles brincando com o Valdir, a Ziza, a Ana Rosa, a Norma e a Selma. Elidia se animou e escreveu uma parede inteira de lições para seus aluninhos, começando lá do alto da parede até embaixo. A aula tinha sido um sucesso e fomos todos felizes para casa. Logo mais tarde, foi chamada às pressas na casa da Dona Jandirinha e lá se foram as broncas por ter sujado a parede toda com carvão. E lá foram eles com balde e esponja, limpar a parede, que era enorme. Depois de terminado, ficaram com as mãos pretas, mas a parede melhorou, não saiu tudo e aprenderam a lição de nunca mais escrever com carvão, principalmente na parede da vizinhança.

A vida da Elidia foi sempre cercada pela escola. Aluna aplicada, só tirava 100 naquela época e as aulas sempre eram uma novidade. Aprendia tudo com muita atenção para reinventar mais tarde na escolinha da rua.

A professora da primeira série chamava-se Elisabete e sempre premiava os bons alunos. A menina professorinha ganhou um lindo broche de borboleta com pedrinhas vermelhas, que exibia no alto do peito de seus vestidinhos lindos, que a mãe ganhava das professoras e ela usava com muito orgulho e estima.

Orgulho era ser amiga das filhas das professoras e quando tinha aqueles almoços na escola, sua mãe sempre ajudava na cozinha, e Elidia e seus irmãos divertiam-se no pátio enorme da escola com suas brincadeiras de infância.

O tempo voava e cada dia era uma nova aventura. Elidia foi crescendo e ajudar, ensinar sempre foi uma missão, pois sempre a procuravam para auxiliar crianças em estudos e tarefas. Ela sempre fazia com gosto e vez ou outra, ganhava um dinheirinho, ou um presente.

Na vida adulta, tentou fazer Comunicação Social, mas por motivos de doenças da mãe de seu namorado, abandonou o curso e foi para o hospital ajudar a sogra que sofrera um AVC e estava paralisada na cama.

Bem mais tarde ingressou na faculdade e logo vieram convites para aulas eventuais nas escolas e assim começou a carreira de uma experiente professora, que desde a infância tratava seus aluninhos com amor, respeito e muito carinho.

Incompreendida por muitos colegas de profissão, a professora sempre levava atividades diferenciadas, inventava jornalzinho, trabalhos manuais, maquetes, passeios ao ar livre, muitas idas e vindas à Biblioteca da escola e da cidade.

O que muitos nunca entenderam, era que Elidia nasceu professora. Não foi da necessidade de trabalho, nem de falta de opção, mas uma questão de escolha daquilo que você sabe fazer de melhor: ensinar!

Sissili
Enviado por Sissili em 23/03/2021
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