O Jatobá de Campos Belos (ou copaíba?)

Por Nemilson Vieira de Morais (*)

A saudade é por demais insistente; no seu afã de viver e reviver, impactar sentimentos das pessoas. Ao tentarmos de alguma forma matá-la, equivocados nos tornamos.

Em algumas situações é possível esse matar de saldade, mas só por um instante, pois logo retorna a nós. — Ao insistir em perpetuar-se... causa uma judiação.

É só distanciarmos daquilo que nos fez (ou faz bem), relembrarmos dum bom acontecimento passado, a saudade logo flui, aflora.

De acordo com sua intensidade, proporção, provoca algumas crises; aperto no peito que nem sabemos explicar. Até choro nos mais emotivos poderá acontecer.

Não temos saudade somente dos parentes ou amigos que amamos e vivem distante; na verdade, temos saudade de tudo e de todos. — Que deixamos de ver, conviver; basta a isso sermos saudosistas.

Temos saudade das pessoas, de um lugar, de um bicho de estimação, das manhãs, tardes e noites de cada dia.

Das brigas com os irmãos, das brincadeiras de crianças, nas chuvas, dos rios; do sol, do luar, do ar que respiramos, do solo que pisamos, de uma árvore, uma rocha…

A saudade do jatobá centenário — aquele que fincou raízes entre dois blocos rochosos, próximo à rodoviária de Campos Belos, região central.

Nessa cidade vivi a primavera da vida (juventude e mocidade).

A árvore viveu e vive presente na lembrança das várias gerações que viveram na “terrinha".

Alguns seguidores da página “Memórias de Campos Belos” (destaquei 7 deles), ao visualizarem a foto do jatobá compartilhada na página disseram:

01 — "Uma saudade que dói: ao sair da escola eu sempre ficava (por um tempo) nessa pedra”. — Olga Julião dos Santos

02 — "Houve um tempo no qual eu morava aí pertinho. Já tiramos muitas fotos em cima dessa pedra. Nós chamamos a casa que morávamos de a "Casa da Pedra”.

— Mônica Fidelis

03 — “Infelizmente hoje, as pedras (que a protegem) estão cheias de tintas! Devia voltar a ser como eram: natural, sem o que fizeram: ao pintarem propagandas”. — Eduardo Modesto

04 — “A famosa pedrona kkkk! Amava ficar lá em cima com os meus irmãos; dava muito medo de subir; uma Recordação maravilhosa!"

— Licínia Santos Velo

05 — “Eu tenho lembranças inesquecíveis! Voltava da escola e subia lá em cima (nas pedras do jatobá). Durante o dia ficava lá, a observar os carros passarem. Às vezes escrevia cartazes bíblicos de esperança e fixava lá no alto. As pessoas passavam e liam. Faz parte da história da minha vida”.

— Pastor Eder Jackson.

06 — “Muitas lembranças dos bons tempos que morei na minha querida terra natal! Em dezembro fui a Campos Belos e fiz questão de tirar uma foto ao lado dele (do jatobá).”

— Andrade Maciel

07 — Aquela (árvore) é testemunha de muitos fatos e, episódios pitorescos Kkk!

— Neném Alves.

Foram tantos os saudosos comentários, sobre esse arvoredo histórico, que nem pude relacionar todos eles para não me alongar com o texto.

JATOBÁ OU COPAÍBA?

Há mais de meio século tenho esta árvore por jatobá (há o do campo e o da mata).

Recentemente vi...

"…Cunhado, esse é o verdadeiro paudólio (pau-de-óleo) do nordeste goiano. Noutros cantos do Brasil é conhecido por copaíba”.

— João Cláudio dos Santos

“Então, João Cláudio dos Santos achei ser um jatobá, embora não me lembro de ter visto os seus frutos antes.

— Dimas Justo

E agora?, é jatobá o pau-de-óleo?

Dimas Justo num diálogo com o cunhado a cerca da nossa árvore centenária não quis debater e, tranquilizou-me:

“O valor histórico e afetivo dessa árvore é importante na cidade. É o que mais nos importa”.

Esta remanescente e solitária árvore nativa têm muitas histórias…

Moradores, dos mais antigos, aos mais novos têm uma afinidade qualquer com esse jatobá; um causo acontecido a contar, uma boa relação com ele (o jatoblá).

Muitos de nós do lugar já sentimos a agradável sensação de, no cume dos rochedos (que o envolve e protege) contemplar o movimento dos carros, das pessoas, das aves pelo céu a voar.

TÍNHAMOS BOA RELAÇÃO

Na minha juventude eu vivia a subir naquelas pedras do jatobá. — Durante o dia para uma contemplação qualquer do ambiente à minha volta; e à noite a finalidade era outra:

Com uma mão por trás da orelha, na forma de concha… tentava ouvir ao longe, o toque de alguma sanfona ou vitrola e assim correr pra lá, para a dançar (a sanfona de Luiz Paçoca era a mais ouvida).

Uma vez identificado a direção do chamado da gaita ou do vinil... eu descia depressa e ia atender o chamamento. Guiado ao endereço pelo som do instrumento caia na dança; há pegar o sol com a mão. — Geralmente acontecia numa casa de família, por aquelas cercanias.

Entrava-se no ambiente festivo sem pedir licença (conhecendo ou não o dono da casa).

Como se fosse um convidado de honra, ou um velho conhecido.

Eu sempre fui bem-vindo naqueles arrasta-pés ou, rala-bucho pela cidade (como chamávamos aquelas danças).

UM PEDIDO

Autoridades responsáveis, inclua essa árvore lendária, como parte do patrimônio histórico da cidade! Preserve-a, enquanto puder (nem que seja por força de Lei)!

O jatobá de Campos Belos, bem como seus habitantes fazem parte da sua história.

Pelo amor dos seus filhinhos: deixe-o em paz no seu lugar!

*Nemilson Vieira de Morais

Gestor Ambiental/Acadêmico Literário.

(09:03:21)