Minha história de vida: UMA HOMENAGEM aos 20 anos de falecimento do meu AMADO avô Cláudio

No dia 31/03/2001 eu tomei uma decisão que mudou para sempre a história da minha vida e de toda a minha família. Fui convidado para ir ao sítio com meu avô Claudio, no sábado, como de praxe. Optei por não acompanhá-lo, no dia seguinte ele faleceu atropelado, ao tentar atravessar a Rodovia Raposo Tavares e por muitos anos eu me senti culpado por isso.

Depois de viver uma intensa guerra interna e muito refletir, resolvi redigir este texto de homenagem de 20 anos de falecimento. No que me diz respeito, todos os dias são de lembrar e celebrar com gratidão e saudosismo do senhor. Recentemente ouvi o Luiz Claudio dizer que também não há um dia no qual não recorde da sua pessoa, essas palavras me impactaram muito, encorajando-me a redigir este texto.

Hoje não é o dia exato do aniversário da sua morte, no entanto pelo fator citado acima, resolvi não esperar até a data correta para escrever.

Poeticamente recordei do filme "Coração de Cavaleiro" e estava escrevendo um esboço de texto que relatava ser estranho eu pensar quantas estações da natureza eu vi desde que o senhor se foi, quantas pessoas conheci, quantas vezes eu presenciei o nascer e o por do sol, mas não o vi mais.

Ainda na mesma esfera, estava relatando que se alguém me contasse há 20 atrás que eu viveria tantos anos sem a sua presença, eu certamente diria que não seria possível aguentar, porém ainda estou aqui, a cada dia mais forte e te amando cada vez mais, pois a distância faz ao amor, o que o vento faz ao fogo, apaga o pequeno e inflama o grande.

As palavras de superação acima, em determinadas situações, fazem eu me sentir uma fraude, já que ao recordar de ti, diversas vezes, para não dizer todas, me debulho em lágrimas. Isso me motivou a guerra interna supracitada e que estava me tolhendo de escrever, mas então eu fui capaz de entender que as lágrimas são fruto de grande saudade e tristeza oriunda da sua ausência.

Tomar consciência desses sentimentos foi um processo muito árduo, doloroso e longo, já que a tristeza programou meu cérebro para escantear os sentimentos desconfortáveis, porém hoje em dia sou um cristão fiel e estou lutando para reprogramar meus pensamentos e comportamentos.

Foi dito da boca do pastor Eduardo no dia 07/03/2021 que não devo me guiar por sentimentos, mas pela palavra do senhor meu Deus. Por essas palavras e diversas outras, afirmo que Deus e a equipe pastoral da Igreja Batista Independente Sorocaba tem sido fundamentais nesse processo de superação.

Gostaria profundamente de fazer as pessoas compreenderem como me sinto em relação a sua pessoa, ao longo da vida, escrevi diversas passagens a seu respeito.

Aos 15 escrevi que o senhor era:

Um amor mais do que materno,

um carinho mais do que eterno.

Você significava o que jamais

alguém poderá significar.

Você modificou o verbo amar!

Aos 20 e poucos anos escrevi que:

Eu sou rico, milionário.

Tenho muitas coisas que o dinheiro não pode comprar.

Só o fato de você me amar,

já faz com que eu me sinta um bilionário.

O mais importante da minha herança,

eu jamais me esqueço.

Minha melhor lembrança

é saber que seu afeto não tem preço.

Aos 25 escrevi que:

Como do ponto de vista biológico eu herdei 60% das características do meu avô, de certa forma ele ainda vive em mim. A influência grande que ele exerceu sobre mim, aumenta esses 60% e eu posso honrá-lo praticando as coisas que ele sempre me ensinou.

Então era hora de parafrasear o Tom Jobim e:

"Vai minha tristeza

E diz a ela que sem ela não pode ser

Diz-lhe numa prece

Que ela regresse

Porque não posso mais sofrer

Chega de saudade

A realidade é que sem ela

Não há paz, não há beleza

É só tristeza e a melancolia

Então chega de saudade."

Aos 26 após o falecimento do meu pai eu escrevi que:

Se por um dia Deus me desse o poder de escolher entre ser ou realizar qualquer coisa, eu escolheria ser o Barry Allen (The Flash), pois eu gostaria de poder voltar no tempo, para os meus pais não se conhecerem e eu não ter que sofrer tanto com perdas.

Ainda aos 26 após o casamento de uma prima eu escrevi que:

"Especiais são as pessoas que compartilham os sentimentos mistos de alegria e nostalgia.

Essenciais são as pessoas que fazem ambos acontecerem.

Eternas são as pessoas que mesmo não estando presentes, jamais deixarão de ser lembradas."

Ainda aos 26 escrevi que:

"Imortais são as pessoas que mesmo não estando presentes, compartilham os seus sonhos com você e te ajudam a realizá-los."

Por último também aos 26 escrevi que:

"Sem persistência é impossível realizar desejos grandiosos."

Relendo meus próprios textos para juntá-los em testemunho, percebo que Deus estava me chamando para junto dele, no entanto eu não estava sabendo entender, ouvir e discernir a voz dele.

Outro dia eu estava fazendo uma oração muito zangado e reclamei com Deus que o ser humano, não merece o rótulo de imagem e semelhança de Cristo. Sempre tento contar as pessoas próximas como meu avô era, mas acredito que minhas palavras não fazem jus a ele, isso me fez escrever que a minha maior frustração como poeta era jamais ter meus sentimentos entendidos.

Contrariando a minha própria tese, na minha opinião meu avô em sua infinita bondade e generosidade, merece o título de imagem e semelhança. Percebi então que para o torcedor fanático, o maior ídolo é o jogador do seu time do coração, por isso, escolho as palavras da muito querida e também já falecida Rita Macedo para falar dele.

24/04/2001

"Guilherme,

Eu estou atrasada como "coelha da páscoa".

Mas estava, como sempre trabalhando e excepcionalmente muito triste.

Estivemos juntos, eu você e a Mariana, fazendo planos de irmos juntos até o quiosque da Kopenhagen, antes da Páscoa.

Mas as coisas nem sempre acontecem como a gente planeja.

Gostaria de poder falar alguma coisa, qualquer que fosse, para aliviar a dor e a saudade que você deve estar sentindo do seu avô.

Mas não tenho nada para dizer, que possa de alguma forma aliviar esses sentimentos.

No entanto, posso te contar, que foi com o seu avô que o Direito teve mais sentido na minha vida.

Não vou esquecer nunca, que ele sentou-se comigo, eu ainda no primeiro ano da faculdade, para conversarmos sobre uma matéria que se chama, ainda hoje, Medicina Legal.

Outras tantas vezes eu perguntava e ele respondia, eram aulas que jamais teria na faculdade.

Outras vezes discordávamos, mas eu aprendi a respeitar e a gostar do seu avô.

E eu sempre soube, que fiz parte da vida dele e fui por ele muito respeitada.

Tenho até hoje o cartão que ele me mandou, junto com flores, quando me formei advogada.

Mas o que testemunhei convivendo com o seu avô foi a retidão de caráter, nesse ponto ele não transigia e isso muitas vezes o afastava das pessoas.

Mas não existe e, tenha certeza, não vai existir quem possa falar qualquer coisa desse homem que pautou a vida pela dignidade e honradez.

Acho que você veio para trazer a ele ...doçura (do jeito dele, do modo dele...mas...doçura).

Fiquei encantada de ver o seu avô no dia de sua formatura; afinal, naquele momento, ele estava sendo simplesmente o avô do Guilherme César.

Hoje, me arrependo profundamente não ter ido perto dele e ter dado daqueles abraços que eu antigamente dava, com ele procurando se "desvencilhar".

Porém, sei que ele sabia perfeitamente quem gostava realmente dele. E você era mais o que neto querido... você era o neto real, presente.

Você terá sempre um grande avô para lembrar, e isso é uma coisa muito boa.

Se um dia quiser conversar com alguém que também compartilha essa saudade ligue para mim.

E para finalizar eu preciso te contar que quando meu pai morreu, foi a presença de seu avô que me fez crer que eu não estava sozinha.

Dessa forma, nunca vou esquecer que o Dr. Claudio fez parte da minha vida.

E você não esqueça nunca que teve um grande avô."

Beijos Rita Macedo.

Aos 30 anos escrevo:

Querido Deus, muito obrigado pela família que você escolheu, mesmo com a infindável e dolorosa briga que dura até hoje pelos bens financeiros do meu avô, prós e contra existem em todos os lugares, minha existência não teria sentido em outro lugar. Eu creio que tens planos maiores para mim, que o melhor está por vir e peço perdão por todas as bobagens que eu disse ao longo dos anos e por ter duvidado dos seus planos por um segundo sequer.

Muito obrigado por me tornar uma pessoa forte, o preço a se pagar foi caro, porém de que outra forma eu seria forte se não tivesse me sentido fraco tantas vezes?

Muito obrigado por finalmente me fazer entender que somos como estações da natureza e que cada estação chega, dura o tempo que tem que durar, traz consigo o ensinamento, mas sempre sucede, isso é um processo e essa é a lei da natureza.

Muito obrigado pelos percalços da vida e pelas maiores dificuldades que passei, aprendi que as bênçãos vem disfarçadas de problemas, que mar calmo não faz bom marinheiro, que o senhor não me dá uma cruz maior que minha força, que estás no controle de tudo e me preparando para ser minha melhor versão, que a sabedoria é encontrada nas dúvidas, mas que buscando achareis, que precisamos aprender a ser específicos e claros com os pedidos em oração, que para amplificar a fé é necessário turbulências grandiosas e que a chave do sucesso em qualquer área é principalmente a persistência e por isso ter paciência se faz fundamental.

Eclesiastes 7:8 diz que melhor é o fim das coisas do que o seu princípio; Melhor é o paciente do que o arrogante. Eu corroboro com a tese do mesmo, pois imagino que no fim estarei juntos dos meus e sob a ternura de Deus.

Me desculpem pelas redundâncias, ser prolixo em demasia e clichês excessivos. Ao meu ver clichês, nada mais são que verdades imutáveis e atemporais e por isso perduram por tanto tempo.

Voltando ao meu avô eu te amo AD AETERNUM.

Gui Machado
Enviado por Gui Machado em 08/03/2021
Reeditado em 11/03/2021
Código do texto: T7201538
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