Otaviano Ferreira de Sousa (o seu Biano)

Por Nemilson Vieira de Morais (*)

Trajetórias de vida

Otaviano Ferreira de Sousa (seu Biano)

Morre o homem e fica o nome (ditado)

Um prazer a mim, sempre imenso poder falar aqui sobre esse angicalense integro, que se irmanou a comunidade campos-belense e agregou valor a esta com o seu caráter, dignidade, honradez e profissionalismo. — Nas décadas de (1950 – 70). Trata-se de Otaviano Ferreira de Sousa, seu Biano; nascido na antiga Santana do Angical, hoje Angical (BA), que se criou pelas cercanias de Dianópolis (TO).

Angical “Território situado à margem esquerdo do Rio São Francisco, integrou a província de Pernambuco até (1828), quando foi anexado à província da Bahia.”

O maior entretenimento desse filho de Angical, seu Biano, como carinhosamente o chamávamos era mesmo o trabalho. Foi um dos primeiros ferreiros da cidade.

Mas nos períodos das Festas Juninas naqueles bons tempos, não se furtava a participar das comemorações e às vezes se encarregava das marcações de quadrilhas. Apreciava com moderação um bom uísque e gostava de brincar um carnaval nos moldes antigos, em que havia mais respeito.

Minhas lembranças

No meu tempo de menino, em temporadas de mangas, maduras as mais bonitas e doces viviam penduradas nos galhos das mangueiras do quintal de seu Biano. — Uma tentação irresitível a nós, os garotos do lugar.

Ao ver aquelas delícias de mangas amarelinhas, que as chamávamos de 'ourinhos' no topo de suas mangueiras. Agussava o desejo e o jeito era pedi-lo; e ele dava. Mas pegá-las sem a sua ordem nem pensar; se pedisse não as negava a ninguém.

O seu amor

Em Natividade (TO), Biano encontrou o grande amor da sua vida: — Carmosina Rocha de Souza. E se casaram. Mulher inteligente, guerreira. Nesta cidade necidade Biano já exercia o ofício de ferreiro; no muito trabalho e suor ganhava o seu pão de cada dia; com sonhos pela frente…

O Senhor abençoava o casal a cada dia e os filhos chegavam devagar, cada um ao seu tempo. Primeiro veio o Gérson, o Ariosvaldo e o Arionaldo.

A responsabilidade de pai cada vez almentava um pouco, e a de mães muito mais...

Naquela época era mais complicado para um chefe de família manter a casa, tocar a vida. Vencer os grandes desafios para criação dos filhos; bem como educá-los. Mas com ânimo, o homem trabalhava duro e nessa determinação havia de vencer.

Natividade nunca foi e não é um lugar ruim de viver, mas pelo visto Biano 'malhava em ferro frio' por lá: não via muitos resultados no que fazia e começou a pensar em pesquisar outras terras.

As primeiras sondagens

Sondou algumas regiões diferentes; e esteve na cidade de Paranã (TO), por algum tempo… mas, com as informações que Campos Belos (GO), era um bom lugar para trabalhar e viver... e, com o convite de Temístocles Rocha, irmão da sua esposa, chefe duma unidade das Centrais Eléctricas de Goiás (CELG), nesta cidade, não pensou muito e se transferiu a ela. O seu cunhado (Temístocles), posteriormente se tornou o primeiro prefeito da cidade

Atendendo ao convite

Biano resolveu ir a Campos Belos atendendo ao convite feito previamente a ele pelo cunhado (essas viagens eram feitas a pé ou no lombo de resistentes animais; como burros ou mulas) e agradou demais da conta do lugar.

E, por volta de (1950 – 51) se mudou com a família para esta cidade. O meninos homens Chegaram à (cidade) muito pequenos; o Ariosvaldo o segundo mais velho, com uns 5 anos.

Na cidade abriu e trabalhou em sua indústria artezanal de ferramentas; como foices, machados, facas, facões, enxadas, chocalhos, dobradiças de cancelas, marcas para a ferragem de animais, tachos de cobre…

E não demorou muito a comprar a sua casa própria, na Av. Ciríaco Antônio Cardoso, em que ainda residem alguns membros da família até hoje.

Um toque feminino

O casal ainda não estava realizado como gostaria: faltava a figura feminina entre os filhos de seu Biano e dona Carmosina; e Deus na Sua bondade, para agraciar mais ainda esse lar, permitiu a chegada da alegria, da graça que faltava: a Iolanda. E assim a caçulinha, a mais nova integrante desse grupo familiar, chegou no momento oportuno e crescia entre eles; em estatura e sabedoria fazendo toda a diferença...

Uma família bençoada

Os filhos do seu Biano e dona Carmosina (todos eles) se tornaram pessoas do bem, educados, atenciosos, solícitos, honrados e queridos pela comunidade campos-

belense.

O Ariosvaldo

Ariosvaldo não desgrudava do pai; o acompanhava nos seus trabalhos e aprendeu o seu ofício. Fazia de um tudo nessa arte com o ferro, o cobre...

E também o judava bastante nos trabalhos da roça, com a aquisição (por Biano) de um terreno no Jacuba; logo adiante da saída para Arraias (TO).

Com a morte do pai ainda tocou a sua indústria um tempo, e depois entrou para a Força Pública e se pôs a defender a sociedade. E administrar a herdade que lhe coube, das glebas de terras da herança.

Gérson

Mais conhecido por Gérson de

Biano virou um artista múltiplo e, se tornou um dos primeiros instrumentistas da cidade; tocava muito bem saxofone e sanfona. Era muito solicitado nos eventos locais e regionais. Assim alegrou muito, as noites carnavalescas dessas comunidades. A sua fama espalhou-se de maneira que vieram pessoas do meio artístico de lugares distantes para o conhecê-lo (atualmente enfrenta sérios problemas de saúde).

Arionaldo

Arionaldo é o caçula dos homens, se tornou um profissional de excelência da enfermagem, trabalhador incansável em cuidados... atuou por muitos anos e provavelmente ainda atua na área da saúde.

Iolanda

A Iolanda única filha mulher (entre os seus irmãos) trabalhou anos a fio com a mãe (D. Carmosina) no cartório da cidade. Sem a mãe a dar suporte nesse trabalho, Iolanda sozinha tomou a frente dos trabalhos até se aposentar; hoje uma filha sua dá continuidade a essa atividade no cartório.

O Passamento de Biano

Otaviano Ferreira de Sousa (seu Biano)

deixou muita saudade entre os seus entes queridos e amigos da sociedade que escolheu para viver. —Quando, no dia 13 de janeiro de (1980), partiu para a eternidade.

Uma prova

Ao lado da residência da família foi construída (pelo patriarca Biano) a primeira casinha da oficina que ainda resiste as intempéries, como prova de como tudo aconteceu (eternizada na memória de muitos e em algumas fotos por aí).

Um herdeiro do seu ofício

Não continuamente, mas ainda podemos ver o seu

Biano na pessoa do filho Ariosvaldo, ao fazer o que o pai fazia na casinha antiga da oficina. Grandes coisas ele herdou do pai: um ofício, um caráter ilibado, um coração mole a moldar, a trabalhar a dureza do ferro, do aço e da vida.

*Nemilson Vieira de Morais

Gestor Ambiental * Acadêmico Literário.

(30:01:21)

Texto contendo informações dum filho do seu Otaviano Ferreira de Sousa.