O ANALFABETO E O CEGO

Aconteceu lá pelo fim dos anos 70, seu Valdemar conhecido no trecho como ferrugem, trabalhava no 6º BEC na construção da BR-174, rodovia que ligaria a capital do amazonas à capital de Roraima, a jornada de trabalho mensal era de 22 dias no trecho, nesse período a única comunicação com os familiares era por cartas.

Uma certa noite, seu Valdemar estava no acampamento antes de pegar no sono do intervalo de um turno para outro, e observou que um de seus amigos, começou a abrir um envelope que acabara de chegar, ao retirar uma carta do envelope, correu a vista por alguns instantes naquele manuscrito, e mudando de repente o semblante passou a demonstrar uma tristeza profunda, e ao vê-lo daquele jeito seu Valdemar lhe perguntou:

- Rapaz me diz que noticia tão triste chegou aí nessa carta que fez você ficar assim.

Seu amigo, quase soluçando lhe respondeu:

- Não foi nem uma notícia Valdemar que me deixou triste, é que eu não sei ler.

E esticando o braço com a carta na mão, pediu para que seu Valdemar a lesse.

Seu Valdemar ao ouvir aquele pedido, imediatamente esticou seu braço para pegar a carta, só que no sentido oposto, e cada vez que seu amigo tentava levar a carta a sua mão seu Valdemar imediatamente mudava para o sentido inverso, como se não estivesse enxergando, depois de algumas tentativas sem sucesso, disse a seu amigo:

- Cadê a carta me dê aqui que vou ler para você.

Seu amigo deixou a tristeza de lado e caiu na gargalhada. Depois lhe falou:

- Quer dizer Valdemar que um analfabeto está querendo que um cego leia sua carta.

Elton Portela
Enviado por Elton Portela em 29/11/2020
Reeditado em 02/08/2023
Código do texto: T7123572
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