Três mulheres fabulosas

TRÊS MULHERES FABULOSAS
Miguel Carqueija

RITA PAVONE

Quando o célebre cantor, ator de cinema e empresário artístico Ferruccio Ricordi, mais conhecido como Teddy Reno, o “Frank Sinatra italiano”, organizou na pequena cidade turística de Ariccia, próxima a Roma, o Primeiro Festival dos Desconhecidos para lançar novos talentos musicais, não imaginou certamente como a sua vida iria mudar radicalmente e para sempre. Pois foi naquela primeira edição do festival, em 1962, que surgiu Rita Pavone, inscrita aos 16 anos. Filha de um modesto casal de Turim, o pai operário da Fiat e a mãe dona de casa, Rita, que há anos sonhava com um lugar ao sol no meio artístico, apoiada pelo pai e combatida pela mãe, sabia o talento que possuía. Chegou em Ariccia acompanhada pela mãe, que parecia ansiosa em levá-la de volta para casa. Tanto isso é verdade que após o primeiro teste Maria Pavone procurou Teddy Reno e expôs que, se a menina não tinha nenhuma chance, era melhor saber logo para que fossem embora sem alimentar mais ilusões. Mas Teddy Reno, que logo de saída enxergara o fenômeno que lhe caíra em mãos, tranquilizou a genitora, explicando que Rita se saíra muito bem no teste. O que ele não acrescentou é que Rita já era considerada a vencedora do festival por antecedência, tal a enormidade de seu talento. E quando Rita se apresentou diante do público, cantando “Il ballo del matone”, Teddy Reno, de tão entusiasmado, declarou ao júri que, fosse qual fosse o resultado, ela seria contratada.
Rita ganhou o Festival dos Desconhecidos em primeiro lugar, e deixou para sempre de ser uma desconhecida.
Em março de 1968 ela e Teddy Reno se casaram e estão casados até hoje.
Rita Pavone gravou inúmeros discos em sete idiomas (italiano, francês, inglês, alemão, espanhol, catalão e algumas gravações em português). Compôs, apresentou programas de televisão, realizou um sem-número de excursões artísticas pelo mundo afora (cinco no Brasil, a última em 2018), atuou no cinema e no teatro. Tão recentemente como neste ano de 2020 apresentou-se com grande garra no Festival de San Remo. Tem fãs fiéis desde a década de 1960, eis que sua empatia com o público e sua mensagem de amor fizeram dela uma artista muito especial, única no mundo também por sua voz inconfundível e seu repertório sensacional além do carisma de sua presença no palco.
É católica, tem dois filhos, sua trajetória é abençoada.



NAOKO TAKEUSHI

Nascida em 1967, Naoko Takeushi é uma importante quadrinista japonesa, uma mangaká, ou seja, desenhista e roteirista de mangás. Estudou Química e Farmácia e exerceu por algum tempo a função de miko (sacerdotisa xintoísta), mas logo estava ganhando prêmios com seus mangás.
Seu grande êxito porém foi quando lançou Sailor Moon, cujo caminho foi aberto por Sailor Vênus. O mangá de Sailor V, ou Vênus (Aino Minako) foi lançado em 1991, iniciando-se ali uma saga grandiosa, uma das maiores sagas da fantasia: a história de guerreiras místicas vindas do passado remoto e que se estende até um futuro distante. Minako, estudante adolescente, descobre ter poderes especiais e vir do passado (aqui, influência da crença xintoísta) com a missão de se juntar à pessoa que prometera servir. Minako, transformando-se em Sailor V, a guerreira da Justiça, combate o Mal em estado puro que ataca no Japão, mas descobre que os inimigos descobertos são parte de algo muito maior. Em 1992 surge Sailor Moon, na verdade a Princesa da Lua, a quem Minako servira em outra vida, no extinto Reino Lunar. Com a reunião das cinco guerreiras (as outras são as sailors Marte, Mercúrio e Júpiter) está armado o cenário para a grande luta entre a Luz e as Trevas.
O mais interessante em Sailor Moon é que essa personagem transmite amor e lealdade, compaixão e senso de justiça, sentimentos puros como não se encontra nos super-heróis norte-americanos. Então Sailor Moon com suas companheiras representa uma renovação do gênero, afastando-se da linha de violência e teratologia da DC e Marvel. A mensagem de amor de Sailor Moon caiu no gosto de uma grande parte do público e a heroína logo arregimentou milhões de fãs conhecidos como “moonies”. O mangá gerou uma série de tv em animação nos anos 90, uma série de imagem real na ´decada seguinte e um novo seriado de animação na atual. Além disso, três desenhos de longa-metragem nos anos 90 e dois com lançamento marcado para ano que vem, e dezenas de musicais de teatro (óperas) lindamente apresentados.
As séries japonesas geralmente são descartáveis, os personagens não são permanente. Tanto os mangás como os animês possuem começo, meio e fim. Mas Sailor Moon é uma exceção e veio para ficar, inspirando até produções amadoras (fanfilmes) nos Estados Unidos. E tudo isso faz da competente Naoko Takeushi uma das mulheres mais importantes da atualidade.



GRETA THUNBERG

Era uma vez uma menina sueca de baixa estatura, loura como costumam ser as meninas de seu país, que desde os oito anos se interessava pela ecologia. Com Síndrome de Asperger (do espectro autista), pegou depressão, anorexia, mutismo seletivo, chegou a perder dez quilos aos onze anos, correndo risco de vida, pois quase não comia.
Morava com a mãe, o pai e uma irmã. Só falava com os familiares e uma professora.
E ela superou seus problemas graças ao ideal que abraçou.
Greta Thunberg tinha 15 anos quando, motivada pelos grandes incêndios florestais que atingiram o norte da Suécia em 2018, entendeu que tinha de fazer alguma coisa ainda que, em tese, nada pudesse fazer. Já não consumia carne e nem laticínios, e conseguira conscientizar seus pais. Ela fez um cartaz declarando greve escolar pelo clima, e preparou um pequeno manifesto:


"Nós, crianças, geralmente não fazemos o que vocês mandam. Nós fazemos o que vocês fazem. E como vocês, adultos, estão se lixando para o meu futuro, eu também vou me lixar. Meu nome é Greta e estou no nono ano. Estou em greve pelo clima até o dia das eleições."

E com estas "armas" sentou na escadaria do Parlamento Sueco.
Assim começou a campanha de Greta Thunberg de combate ao aquecimento global, ao derrame de carbono na atmosfera, à destruição das florestas e das espécies animais. E sempre lembrando da responsabilidade maior dos países ricos e seus governos, e das trágicas consequências sobre a própria Humanidade, acarretadas pelo colapso ambiental.
Já tendo discursado em muitos lugares, até na ONU, Greta motivou milhões de jovens pelo mundo (até na Índia) a se manifestarem, inclusive em praça pública, clamando por uma mudança no comportamento da civilização. Pois, é ainda Greta quem alerta (e baseada em dados científicos confiáveis) que se não houver recuo nessa rota suicida virão processos naturais irreversíveis e fora do controle da humanidade, e que provavelmente significarão o fim desta atual civilização.
O que vem sendo avisado até por séries japonesas de animação.
E por falar a verdade esta intrépida menina, hoje com 17 anos, paga um preço muito alto em termos de insultos, difamações e calúnias. Afinal, ela contraria poderosos interesses.



Rio de Janeiro, 15 de novembro de 2020.