Dois de novembro
Por que tememos a morte? Por que evitamos até designá-la pelo nome?
Tememos o desconhecido e negamos a não existência. Aprendemos que um corpo sem vida é nocivo e provoca o recuo instintivo como se aquela matéria inerte pudesse nos atrair para o túmulo.
Bater com as dez, partir, comer grama pela raiz, ir para a terra dos pés juntos, desencarnar, falecer, entrar em óbito, – NUNCA morrer e sempre de acordo com o respeito – ou desprezo – devotado àquela pessoa que deixa o mundo dos vivos.
Não sabemos lidar com a perda de uma pessoa e talvez nunca saibamos porque não fomos educados a nos preparar para este evento inexorável.
A sensação é que a cada dia mais pessoas estão passando para o lado de lá e a pergunta inevitável é: "– quando será a minha vez"?
Acontece um acidente aéreo ou terrestre de grandes proporções e ficamos chocados com a quantidade de vítimas e ao mesmo tempo aliviados por estarmos a quilômetros de distância do local da fatalidade. "Antes ele do que eu!"
Dia dois de novembro é o dia convencionado para homenagear aqueles que nos precederam na jornada de volta ao pó. "És pó e ao pó tornarás". Alguns choram, outros oferecem comida e bebida, cada qual em sua crença para manter acesa a chama dos que se apagaram.
Todo respeito e homenagem prestados aos seres que foram para o Invisível são importantes para que nos respeitemos como criaturas semelhantes ao Criador.
O desapego á materialidade talvez seja a melhor fórmula para respondermos às questões iniciais deste texto. Ou não. Depois daquelas questões, ainda permanecem irrespondidas: O que somos? De onde viemos? Para onde vamos? Por que sofremos?
E assim, de interrogação em interrogação esperemos um dia – quiçá – chegaremos a uma exclamação.
©Bispoeta