UM HOMEM DE VERDADE

Na sua tenra idade, já madrugava para atar os feixes do canavial do sítio arrendado onde vivia com seus pais. Menino com pouca diversão que exige a infância. Primogênito, crescendo com vários irmãos, ajudando no trabalho pesado da labuta. Regime de educação à moda bem antigs, pai rígido, correção na ponta do relho, a criançada crescia. Conta ele com detalhes e por menores, como foi seu aniversário de oito anos. Levantava muito cedo para lida, mas neste dia sua mãe não permitiu que fosse trabalhar. Costurou uma macacão de frágil tecido e o colocou para brincar. O dia estava chuvoso, ele brincava entre as pernas agachado entre os animais (panorama normal de um sítio). O animal escorregou de alguma maneira e acabou quase pisoteando o frágil menino da roça que rasgou-lhe toda a roupa nova. Sua mãe desesperada, socorre-o, faz-lhe os devidos curativos e exclama:"Oh pequeno que triste maneira de comemorar seu aniversário, hein filho!".
Já crescido, passando do tempo para frequentar uma escola, o tempo passava e também não havia escola por aquelas bandas. O menino é ávido para o saber, pois queria a toda maneira ler, todo panfleto, anúncio, placas, demarcações, jornais e qualquer letreiro, chorava por não poder ler o que estava ali escrito. Derramou lágrimas por isto. Deus, que é pai e tem misericórdia dos humildes e quebrantados de coração, em certo dia aparece por lá um professor, candidatando-se a dar aulas para a molecada do lugar. Arrumaram uma sala e os sitiantes, contrataram o tal mestre. Não é preciso dizer que o menino já crescido, tornou-se o melhor aluno da turma. Ficou craque em literatura, lia tudo e gostava de matemática. O professor gostava dele e até adiantava-se nos pontos da matéria. Naquele tempo havia a punição, chamada palmatória para quem precisava de correção e ele como sempre bom aluno, nunca apanhou. Como bom aluno tinha que bater com a palmatória o infeliz punido. E as vezes este era seu amigo! Complicado. De garoto a adolescente, vem a juventude, muita festa agora nos domingos, bailes ao redor com amigos e os irmãos. Por ali, conheceu a namorada que tornou-se sua companheira e eterna esposa. Isto se passou no interior do estado do Paraná. Bem saindo do sitio, não tinha profissão definida para trabalhar na cidade. A vida de sítio passou tanto para ele, como para seus irmãos. Fez vários bicos por lá, conta com mais detalhes, que como entendia de animais, dirigia uma diligência (carroça), entregando engradados de cerveja de uma empresa alemã. Certa feita, num dia chuvoso, aos fazer uma curva meio brusca, chão de barro, a carroça veio a tombar e as garrafas de cervejas na sua maioria quebraram-se, ficou apavorado. Uma pessoa mais velha, pensou e o ajudou e mandou que catasse as tampinhas perdidas na lama, para provar aos chefes da cervejaria, que houve uma acidente. Foi o que ele fez e salvou seu emprego por ora. Este trabalho também não subsistiu. Abriu-se uma porta de trabalho mais promissor, o DER do Paraná. entrou lá como ajudante, trabalho pesado, mas como foi criado na dureza, foi bem. Queria melhor salário e ter uma profissão definida e não ajudante. Pensou e pensou, motorista seria o ideal. Muito conversador e comunicativo, fez bastante amizade entre os motoristas, até que um o ajudou. Deu aulas de direção a noite para ele e com certas dificuldades, aprendeu (detalhe: os caminhões da época, "bigodes" eram terríveis na troca de marcha "seca", tinha tempo certo para o engate, se não raspava). Assim com bastante treinamento, foi fazer exame de habilitação, onde não podia no exame, "raspar" na troca das marchas. Era um vencedor, pois tirou sua CNH e ficou atuando como motorista daí pra frente, e trabalho dez anos no DER do Paraná. Na época não havia contribuição para aposentadoria. Cada motorista cuidava de seu caminhão (patrimônio do DER do estado do Paraná). ele se desctava dos demais, sempre caprichoso, o caminhão de sua responsabilidade sempre estivera bem cuidado. Em tempo de guerra, com a escassez da gasolina, os caminhões foram adaptados para o combustível à carvão. Era colocado um tipo de bujão na parte superior da cabine, chamado gasômetro. Voltando ao relacionamento, casou-se antes do trabalho do Estado do Paraná. Conheceram-se e namoraram num lugarejo chamado Porto de Cima, a 10 quilômetros de Morretes. Ele e ela batizaram-se num rio lindo da cidade de Morretes/PR, chamado Rio Nhundiaquara, frequentavam agora a Igreja Batista local. Lá nasceram seu primogênito e mais duas meninas. Após este tempo, resolveu trabalhar por conta própria e aceitou o convite para trabalhar com o cunhado numa caieira no estado de São Paulo. Veio a Itapeva, onde nasceram mais dois filhos. Depois de algum tempo abriu uma pensão na cidade, descompatibilizou-se da gerência da caieira, para trabalhar no seu próprio negócio. As filhas completaram o curso do magistério e não tinham chances de trabalho na pequena cidade de Itapeva. Resolveu então mudar pra Sorocaba, cidade grande de melhor oportunidade. Em março de 1963, em pleno verão aconteceu a mudança. Sem muita estrutura aqui, comprou o ponto da pensão já estabelecida, onde já tinha acertado tudo. Não demorou muito a se estabelecer e ficar conhecido. Mudou com a família com apenas dois dos últimos filhos. O primogênito casado e com filhos, seus netos, continuaram em Itapeva, com estrutura lá. A filha casada morava em São Paulo e trabalhava de professora numa escola, a outra filha morava com a irmã, a procura de uma cadeira como professora. Assim, a vida prosseguia. Seu anfitrião, que o ajudou neste início de convívio por aqui, foi um antigo conhecido, jovem, da cidade de Itapeva, que morava algum tempo em Sorocaba.
Em Itapeva, foi líder no pequeno salão de Igreja do Evangelho Quadrangular, a qual se filiou, porque não havia Igreja Batista na época.
Trabalhou bastante e tornou-se líder e representante em todas as convenções estaduais e nacionais desta Obra. Assim depois de bem estabelecido já recuperando o pessoal para morar na pensão (os pensionistas) uma vez que no início havia dois ou três moradores, ele foi buscar a igreja da denominação. Igreja pequena e quase sem membros.
Não é preciso dizer que foi atuante nesta igreja, anfitrião de todos os pastores que ali foi designado, sempre cooperando para o bem e crescimento da igreja. Fazendo parte do Conselho da comunidade, tesoureiro fiel, tinha respeito. Talvez aquele menino, que não sabia ler e que catava os papéis para ver o que estava escrito, pudesse contemplar agora o homem respeitado, auto didata que manuseava com agilidade os livros da tesouraria entradas e saídas e que manseava bem sua Bíblia surrada de tanta qua a lia e que pregava nos cultos de celebração quando convidado pelo pastor. O tempo passa, aposenta-se da pensão, da labuta. Fecha a pensão, ja idoso com problemas no coração, recebe o convite para dirigir uma congregação num bairro de Sorocaba. Pastoreia por dez anos no pequeno local, faz muita amizade alí. Como pastor, ele e a esposa, deixam sua marca alí. Lugar pobre, torna-se conselheiro e mestre, socorrendo as necessidades do povo, com orações e ensino da Palavra. Já nos seus oitenta e poucos anos, dirigindo seu fusca, indo e vindo do bairro onde ficava a igreja, o casal de velhos, ele e esposa, foi então necessário pedir-lhe a liderança da igreja maior, que encerrasse a carreira como pastor. Era perigoso continuar a dirigir principalmente estrada perigosa. Com muito cuidado para falar com ele, a liderança o aposentou, para alívio dos filhos e netos. Assim morando numa residência boa, este homem de verdade agora tem o merecido descanso com sua nobre companheira e esposa que tem parte importante nesta história. Interessante a trajetória deste homem, de origem humilde, força de vontade e presciência de Deus, foi caminhando iluminado por uma aura magistral, tem um percurso da vida extraordinária, digo até, ímpar. Feliz da vida, sempre com sorriso estampado, tinha força em viver, ultrapassava as barreiras com facilidade, sempre grato a Deus. Leitor voraz da Bíblia, fiel e verdadeiro, simbolizava à família, o ícone, o exemplo. Plantou bem e colheu os frutos, filhos genros e noras, netos e bisnetos. Ansioso estou em dizer com muito orgulho e satisfação, que estou escrevendo algo verdadeiro, simplesmente a singela biografia e rápido conto de meu querido PAI, MIGUEL PAULO PEREIRA. Pena não ter conversado e gravado mais suas histórias. Escreveria por certo um livro de muitas páginas. Digo com toda certeza, que se a humanidade em geral fosse agraciada com um pai tão precioso assim, ela seria bem mais diferente, mais amorosa. Quase tudo que sei, aprendi com ele. Não me surpreendo quando de vez enquanto ouço suas frase e seus contos e citações bíblicas. Aprendi ler a Bíblia com ele. Logo que alfabetizado ganhei uma Bíblia com concordância, dele. Meu pai era fotogênico, bem nas fotografias, meio vaidoso, gostava de se trajar com terno e gravata e lenço no bolso. Era perfumado, usava brilhantina. Pregava pausadamente, gostava de microfone. Nem parecia que quando garoto só frequentou meio período do curso primário. Era o meu pai, tenho saudades dele, sou feliz e grato a Deus, por me dar um pai assim. Gostaria de ser como ele, creio estar longe disto. Privilegiado pela bendita Graça de Deus, concedeu-me uma pai, que foi amoroso, conselheiro e educador. Creio veemente que não estive a sua altura como filho, de fato ele falava com razão: "um pai é para cem filhos e cem filhos não é para um pai." Sua maior proeza foi levar-nos ao conhecimento de Jesus Cristo como nosso Salvador. Recebeu o grande exemplo de seu pai nosso avô e passou a nós. Em 04 de janeiro de 1989, com oitenta e dois anos, numa quarta-feira chuvosa, nos deixou a sua grande e última mensagem, faleceu, parafraseando as palavras do apóstolo Paulo "combateu o bom combate, acabei carreira, guardei a fé". Levando-o as pressas de carro, este que escreve estas páginas com emoção, deu seu último suspiro antes de adentrar o hospital. Miguel Paulo Pereira, único, está com Cristo, que sempre pregou. Aguardamos um novo céu e uma terra, lá haveremos de nos encontrar. Tenho pra mim, aqueles que de nossa família que já partiram foram recebidos por ele com aquele sorriso afável, não só estes mas aqueles que ele levou à Cristo. Suas frase ecoam ao meu ouvido. O tempo já passou de sua partida e até agora sinto saudades deste HOMEM DE VERDADE, meu pai.

ALGUNS RELATOS
Tento colocar aqui, alguns relatos, até engraçados relatados por ele. Certa feita, meu avô João seu pai recebeu umas visitas em casa. E naquela época as crianças não podiam ficar por perto, se ficasse, depois que a visita fosse embora apanham todos. Conversa vai conversa vem, as visitas ficaram para almoçar. Meu avô chamou o Miguel. "Miguel pega o cavalo e vai pegar na venda, uns peixes para o almoço e vai rápido, sem demora". Meu pai, ri quando contava isto, montou no cavalo (era meninote como dizia ele) saiu a toda encontrou alguém conhecido e foi troteando e conversando e o tempo foi passado (sempre muito conversador rsrs). Não deu conta do tempo e da demora. Quando reparou passou-se muito tempo, correu levou os peixes e o seu pai já muito bravo. Explicou da demora, mas a "conversa" ficou depois que a visita fosse embora. Assim minha vó preparou os peixes a visita foi embora e ele sabia que iria apanhar. Os irmãos todos correram, pois se ficassem para ver, apanhariam todos. Levou uma baita de uma surra e de relho (couro de animal trançado).

Como já relatado, ainda em criança crescida, mas que deveria estar em uma escola, queria muito aprender a ler principalmente. Lá no sítio não havia escola e o pessoal crescia sem alfabetização. O menino Miguel sofria, pois queria muito aprender. Emocionava-se sempre ao achar folhetos e revistas velhas e não poder entender, ler o conteudo ali. Deus providenciou conforme ele mesmo nos relatava, que por lá apareceu um professor convocando os moradores, para montar uma escolinha para alfabetizar as criançadas. Assim Miguel tornou-se um dos melhores alunos. Aprendeu com rapidez a linguagem escrita e lida e bom em matemática. cumpriu a promessa de ler qualquer coisa que aparecesse a sua frente. Crescendo, adulto um auto didata. Lia tudo. Assinava jornais, lembro-me "Estado de São Paulo" e "Folha de São Paulo" e aqui em Sorocaba, o "Diário de Sorocaba". Leitor voraz da Bíblia, adquiriu profundo conhecimento. Um Teólogo leigo mas com grande conhecimento. Tornou pregador de fácil comunicação e fantástica simpatia, meu grande pai. Aposentado, foi consagrado pastor da pequena congregação da IEQ de Brigadeiro Tobias bairro de Sorocaba. Grande visitador, ele e minha mães, aconselhando jovens casais e orando pelos enfermos por lá, angariou grandes amizades. Fui por pouco tempo colaborador em, sua congragação, pois tinha compromisso na igreja sede nesta época.

A demonstração de seu desejo em conquistar pessoas para salvação em Cristo, era peculiar. Como dono da pensão, na rua Newton Prado, 290, bairro Além Ponte, sua principal tarefa era falar do amor de Cristo. Levou algumas pessoas que moravam na pensão a aceitação e o entendimento da sua mensagem. Um deles, é inesquicível. Um baiano, que trabalhava na terceira turma da Fábrica de Tecido Cianê, aceitou de bom grado a mensgem. Batizou-se, fez curso de Teologia do Instituto Bíblico Quadrangular, anos após foi consagrado pastor. Joaquim voltou sua Bahia e pastoreou uma igraja lá. Há uns tempos atrás, veio para Boituva/SP. Tivemos chance de vê-lo com saudades, pois foi um grande amigo. Acidentou-se, foi parar num hospital de Sorocaba e aí tivemos a aportunidade de vê-lo. Assim meu pai semeou a Palavra para muita gente.

Quando mudamos pra cá, cidade nova, pouco conhecimento. Nosso anfitrião aqui foi o amigo jovem na época, Benedito Jarbas da Fonseca. Acho que tempos aureos. Ficou conhecido como a pensão do "Seo Miguel", o crente rsrs. Com o passar dos tempos, foi sendo reconhecido, como homem sério, de boa conduta e exemplar. Muita coragem e fé para começar com uma pensão, praticamente vazia, levando-se em conta as profundas mudanças da pensão antigo de Itapeva. Lá fogão à lenha, aqui fogão à gas. Nestá época, 1963, tinha nove anos. Além de tantas preocupações arranjar escola para mim e pro meu irmão Miguel. Calor da época de março, minha mãe estranhou bastante. Devagar foi-se ajeitando, meu pai era precavido e deveria acho eu, ter uma reserva financeira capaz de suportar os primeiros gastos. comprou um fogão à gas "Cosmopolita" e através de anúncio no jornal "Diário de Sorocaba", adquiriu uma lavadora reformada, lembro-me bem, verde, muito boa por sinal, que durou muito. Deus foi abrindo as portas, num rápido tempo a pensão encheu-se de pessoas, principalmente por uma empresa construtora de assentamento de calçadas, que vinha de Campinas, trabalhar aqui e se instalavam na pensão. Minha mãe tornous-se mãezona deste pessoal. Morador mais antigo, foi o Vicente, figura singular, que ficou até o fechamento da pensão.

Meu pai tinha a proteção Divina sem dúvida. No ano de 1977, época de meu último ano na faculdade, o último ano que moramos na rua Newton Prado, a velha pensão que não existia mais, meu pai acompanhado com a minha mãe, foram a Santa Casa de Misericórdia, visitar alguém de sua igreja (Brigadeiro Tobias, quando pastor lá).Andado pelos corredores daquela casa de sáude, encontrou-se com o Dr. Paulo Canineu, médico cardiologista, que na época jovem, dava plantão lá pelo convenio popular. Eram amigos, Paulinho como meu pai o chamava, olhando sua aparência nada boa levou o "Seo" Miguel a uma sala dizendo - "O Sr. não está bem, vamos fazer uns exemes". Assim tirou um eletro e constatou coração fraco e estado perigoso. Intermou meu pai na UTI (era grave) no mesmo instante. Providencia Divina, pois estava sofrendo gravemente do coração. A partir daí, tomou remédios contituos até o fim.

Numa certa época, meu pai estava preocupadp com a remuneração da sua futura aposentadoria e queria contribuir com um valor maior com a previdência social. Nesta época, a contribuição estava atrelada ao nível da profissão, não como hoje que se pode contribuir com quanto quiser como autônomo. Como comerciante, dono de hospedaria, só podia contribuir ao equivalente salário mínimo. Assim optou em comprar um taxi, para recolher mais como motorista profissional. Não tinha dinheiro suficiente para comprar um carro licenciado como taxi, mais o ponto. Para sua decepção, tentou empréstimo com sua irmã, Aristidia, que ele a chamava de Mana, que morava em Curitiba e tinha condições financeiras para emprestar a quantia que ele precisava para adquirir o tal empreendimento. Para sua decepção, sua "mana" negou o empréstimo, tendo a grana. Ficou aborrecido, coisas de família, pois pra piorar, descobriu que ela, sua irmã tinha arranjado dinheiro para outro irmão, meu tio Zeca. Não deu desta vez..., mas apareceu mais tarde uma oferta boa, que iria dar certo. Tinha o dinheiro, para comprar o ponto e o carro de um jovem. Tava animado, marcou um horário para experimentar o carro e efetuar a compra. Lembro-me bem deste dia. Depois do almoço, o jovem vem com um carro quatro portas, Chevrolet, preto, tipo Mercury, câmbio no volante. Meu pai na frente, eu e minha mãe atrás. O jovem foi dirigindo, subimos a Av. São Paulo, até alcançar a antiga Indústria de uisque, Drurys, subindo a estrada, hoje Av. Engenheiro Carlos Reinaldo Mendes. Lá em frente o Fórum, quase cabeceira da ponte onde passa a rodovia Castelinho, o carro pára, pois encavalou a marcha. Nesta época não havia muito movimento naquela estrada. O jovem disse que era coisa simples, era só erguer o capô do motor e desencavalar a marcha e prosseguir. Carros com câmbios assim, davam mesmo este tipo de defeitos. Minha mãe que não entendia patavina de carro, achou de dar palpites, e tirou a idéia de meu pai comprar aquele carro em vez de incentivá-lo, coitado. eu por sua vez, adolescente, achei por bem opinar a não comprar. Se meu pai tivesse firmesa e soubesse decidir por ele próprio e acho hoje, que deveria, teria feito negócio, pois era bom. Não soube raciocinar com clareza. O motivo principal era ter condições de recolher mais a previdência, pois nosso sistema principal para viver era o ganho da pensão, de modos que não iria trabalhar muito como motorista de taxi. Faltou ao meu pai poder de decisão firme e isto não era seu forte, infelizmente com nossa infeliz opinião (eu e da minha mãe), ele desisitu de seu sonho. Fico meio aborrecido de fazer parte deste fracasso na vida de meu pai., mas faltou-lhe coragem e isto acho que nós filhos puxamos a ele, infelizmente. O medo do fracasso, sem tentar realizar o sonho. O sonho de meu pai era ter um taxi e poder ter uma aposentadoria melhor. Minha mãe também levou a pior, pois não contava ela, que iria herdar uma pensão pequena. Se tivesse ajudado e incentivado meu pai, teria ficado com uma pensão maior. A lição que tiro disto é que não devemos abandonar nossos sonhos, mesmo correndo riscos, pois a vida é assim. Então o Seo Miguel, finalmente se aposenta, ganhando o salário mínimo, mas muito feliz e nunca passou necessidade. Hoje se encontra num plano bem superior. Amém.

COMO LARGOU DE FUMAR

"Este relato, ponho aqui fielmente de seus escritos, que felizmente guardei. Compilado de sua folha escrito à máquina de escrever. Começa assim sob o título: COMO DEIXEI DE FUMAR:
Fui batizado em 30 de setembro de 1932. Deixei de fumar por algum tempo, mas depois voltei de novo, isto por várias vezes, mas na terceira não pude mais. Fumava escondido dos crentes nossos irmãos. Sofri bastante por algum tempo. ERam membro da Igreja Batista, juntamente com minha esposa, fomos batizados no mesmo dia. Mudamos de Morretes para Itapeva. Em Itapeva não havia Igreja Batista, na qual eu chamava de minha igreja. Ficamos muito tempo sem membrar com igreja nenhuma. Desde 1945 até 1958 ficamos assim. Em abril dia 03 foi inaugurado um salão da Cruzada Nacional de Evangelização e aí ingressamos no Evangelho Quadrangular. Ficamos muito alegres com nossa família; logo comecei a pregar, mas havia um impecilho em minha vida na minha vida, o maldito cigarro que era a grande barreira para ser transposto e quem poderia fazer isto? Só aquele que é o grande "Libertador" - aleluia! em novembro de 1958, dia 29 fui em companhia do pastor Mariano de Castro já falecido, a Joinville (Estado de Santa Catarina). Eu fui pousar na casa de minha irmã Alice em Curitiba. Lá chegando minha irmã perguntou se eu tinha deixado de fumar, respondi que sim, mas fazia apenas uma hora que eu tinha fumado. ela foi prepara um lanche, porque não aceitei a janta e neste interim ela me perguntou se eu estava doente, porque eu estava triste, enfim ela estranhou o meu estado, disse apenas que estava cansado, pois tinha viajado de Itapeva naquele dia.
Pensei comigo mesmo, sou mentiroso e viciado, acho que a morte seria melhor e pensei, hoje antes de deita vou ter uma conversa séria com Deus. Depois do lanche ela mostrou-me o quarto para eu dormir. Pedi para me chamar as seis horas para tomar o ônibus a Joinville, o pastor Mariano me esperava na rodoviária. Antes de me ditar, dobrei meus joelhos e contei minha situação para o Senhor Deus, disse: "As minhas forças não são sufucientes para me libertar e se amanhã eu continuar com esse maldito vício, deixarei de ler a tua Palavra, não quero ser mais hipócrita e mentiroso; quero Senhor, que me sustente aquela palavra que disse para minha irmã (que já tinha deixado de fumar) e que aquele (cigarro) fosse o último como realmente foi e disse mais, eu espero na tua misericódia. No dia seguinte fui a Joinville e me esqueci do cigarro. Tenho registrado na minha Bíblia. Fui liberto do vício de fumar no dia 29 de novembro de 1958. Cumprindo-se a Palavra de Deus no Evangelho de São João 8:32-36, Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará e se pois o filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres. Louvado seja Deus, Aleluia. Passado dois dias lembrei-me do caso do cigarro e fui agradecer ao Senhor pela minha libertação. Daí viajei a Mafra visitar o meu irmão Francisco e no ônibus de vez enquando me era oferecido cigarro e justamente a marca que eu fumava "continental" meu predileto tomei aquilo por tentação, mas graças a Deus não tinha mais aquele desejo, pois o Senhor havia me libertado..."
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Dali parti para Curitiba no dia seguinte e no ônibus sentou-se comigo um moço que ia fumando e me ofereceu cigarro e disse a ele que não fumava, me perguntou seu nunca havia fumado e então respondi que fumara a uns trinta anos mas havia deixado. Ele me perguntou quanto tempo fazia, respondi, está fazendo cinco dias e entaõ me disse se eu não tinha vontade, respondi que não. ele não acreditou porque nestes dias a gente fica quase louco. Perguntou-me então o que fiz para deixar de fumar, aí peguei a minha Bíblia e mostrei o que o evangelhista João (...). Ele me disse que o médico proibiu a ele de fumar mais, o que ele não podia e se assim continuasse poderia morrer logo. Dei a ele a receita da Palavra de Deus. Antes de chegar a Curitiba, este moço desceu do ônibus e nunca mais soube dele. Depois de que deixei o cigarro minha saúde melhorou bastante. Louvo a Deus por esta grande vitória. Aleluia e amém! Deixo este testemunho para que se alguém estiver com caso parecido como este, faça assim e também haverá de receber a mesma libertação, pois a vitória será certa, porque assim diz a Palavra e que o nome do Senhor Jesus Cristo para sempre seja louvado e glorificado. Aleluia e Amém!
Sorocaba/04/1981 assinado pelo autor. 
Pr. Miguel Paulo Pereira.
Obs.: este relato foi compilado o mais possivel do original com alguns acertos em concordância nominal e verbal, sem alterar sua vercidade.

Miguel Paulo Pereira filho de Joâo Paulo Pereira e Maria Sennes Pereira.
Nascido em Itajai - Santa Catarina em 08 de maio de 1906.
Casado com Sabina do Carmo Paulo filha de Catarina Forbice e Basilo João do Carmo Forbice.
Nascida em Itajai - Santa Catarina em 07 de julho de 1914.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES: 

Creio que se meu pai, tivesse oportunidade de frequentar as escolas seculares, cursos, faculdades e pós graduação, sem dúvida seria o melhor na área que escolhesse. Sem dúvida seria grande advogado ou a magistratura, quem sabe chegaria ao mais alto posto. Com apenas um pouco do primário, ele estava bem acima de muita gente formada. Tinha vontade de conhecer o novo e seus desafios. Depois que aprendeu a ler já crescido, pois lá no sítio não havia escola, nunca mais parou de ler. Foi agraciado pela luz do Evangelho de Cristo, batizou-se na juventude, juntamente com minha mãe, sua grande companheira. Ávido pela leitura da Bíblia, aprendeu dali, a linguagem erudita!
Ficaria muito tempo sem encerrar este fascinante escrito, se for colocar tudo este meu pai fez.
Sinto ainda sua falta, seus conselhos, sua prosa, seus hinos que gostava de cantar do hinário Cantor Cristão.
O bom é saber que na eternidade, haveremos de encontrá-lo, porque cria nisto e sempre repetia: "Aqui, somos apenas peregrinos e forasteiros".
"Aqui não é minha pátria."
Não nos deixou herança material, a não ser uma carteira com alguns trocados a mim, quando a enfermeira trouxe, balançando a cabeça como a dizer, ele morreu e me entregou...mas deixou a melhor herança que um pai pode deixar aos filhos, que é a fé em Jesus Cristo.

Amém!

 
Luiz alma de poeta
Enviado por Luiz alma de poeta em 12/11/2020
Reeditado em 13/01/2021
Código do texto: T7110313
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