52 anos de casados!
Meus avós, Cicero e Arlinda, celebram hoje 52 anos dos votos matrimoniais. Cinquenta e dois! Nesse mesmo dia, ele completa 74 anos de aniversário natalício. Setenta e quatro! Um ano mais velho do que o professor Olavo. Meu avô casou-se no dia do seu aniversário. Apaixonou-se pela caboclinha da minha avó, mocinha 9 anos mais jovem do que ele. Eles são exemplares vivos de uma outra época, de tempos passados nos quais os votos de compromisso entre um homem e uma mulher valiam para toda a vida. Quando criança, me fascinavam as histórias antigas sobre seus ancestrais. Meu avô é neto de um imigrante italiano que gerou uma carrada de filhos. "Me conte mais sobre o seu avô, vô", dizia eu todo empolgado, "eu não convivi com ele, meu filho", respondia meu avô, "mas o vi algumas vezes, ele não falava português direitinho, não. Certa vez, uma prima minha, bicha muito da danada, prendeu o velho dentro de um tambor e deu-lhe uma surra! Meu tio, que era surdo/mudo quis pegá-la". Que tipo de criança não gostaria de ouvir histórias assim? O sobrenome italiano perdeu-se pelo desleixo de algum escrivão de cartório analfabeto, que ele pague pela sua incompetência! -- se é que já não pagou. Minha avó, pobrezinha, é descendente dos índios de Pindorama. A beleza da cabocla arrebatou o coração do meu avô. Casaram-se antes do homem ir à lua e, de sua permanente lua-de-mel, nasceram-lhes quatro filhos. Seriam cinco, mas Deus, em sua onisciência, quis tomar Elizabeth para si. Eis os nomes: Rubens, Simone, Ricardo e Fabiana. Meu avô é um homem nobre, mais nobre do que todos os homens que conheci nesta vida. Se os espíritos de Dostoiévski e de Machado de Assis pudessem voltar e se estabelecer na consciência de um só indivíduo, ele não seria capaz de escrever um relato digno da vida dos meus avós nem se tentasse por cem anos!