QUANDO O CONTRADITÓRIO PASSA A SER O ÓBIVIO

Algo que sempre seu Valdemar falava quando o assunto era ter como passar bem, é que se você poder e tiver condições financeiras, deve comer do bom e do melhor e jamais tentar economizar, dizia ele:

- Se eu tiver dinheiro no bolso eu vou procurar comer a melhor comida, porque sei que se morrer, a única coisa que vou levar é o que está dentro de minha barriga.

Outro dia cheguei na chácara no meio da semana na hora do almoço, seu Valdemar sem demora já foi me convidando para a mesa. O cardápio era um cozidão daquele jeito; com muito quiabo e maxixe. Começo a me servir e percebo que o arroz não parecia ser de boa qualidade, mas mesmo assim sirvo-me. Ao terminarmos de almoçar, depois daquele cafezinho, estamos levando aquele dialogo que antecede o descanso em uma rede antes que voltássemos ao expediente da tarde, resolvo então lhe fazer uma pergunta que vai deixar transparecer sua contradição:

- Meu pai me diga uma coisa, o senhor sempre falou que se tivesse dinheiro, comeria do melhor, por um acaso o senhor mudou de opinião?

Antes de me responder, quis saber porque eu estava lhe perguntando, falei então o motivo:

- Veja bem meu pai, o senhor fuma todos os dias uma carteira de cigarro, se pegar o dinheiro de uma carteira de cigarro do mais barato, sem dúvida daria pra comprar dois quilos de arroz do melhor, aquele classificado como tipo 1. Hoje o senhor cozinhou para o almoço um arroz tão quebrado que acredito que os pintinhos rejeitariam.

Ele pensou, deu um trago no cigarro e saiu com essa justificativa:

- Meu querido, eu estava meio ocupado hoje pela manhã, e não tive tempo pra ir ali no conjunto comprar arroz, e resolvi cozinhar esse meio quebradinho, mas vou lhe dizer uma coisa meu filho, quando a gente morre e é enterrado, não pense que os vermes vão dispensar nosso corpo porque comemos arroz de terceira... há mas dispensam mesmo!

Elton Portela
Enviado por Elton Portela em 21/10/2020
Reeditado em 17/07/2023
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