CADA QUAL NO SEU QUADRADO E MEU TIO EM SEU QUADRADO SUSPENSO

Em uma conversa com seu Valdemar, lhe perguntei como viviam nossos tios no Rio de Janeiro, ele me disse que a maioria estava bem de vida e outros nem tanto, e me contou que quando estava por lá procurou saber como estavam e onde moravam, talvez para tirar as conclusões de quem estava certo, quando meu pai optou por ser o único a vir para o norte.

De todos que relatou suas vidas e suas rotinas, apenas um, ele fez questão de contar em detalhes o dia em que resolveu almoçar em sua casa.

Tentarei reproduzir o cenário e as palavras, da mesma forma que seu Valdemar me contou, ele disse:

- Fui conhecer a casa de um de meus irmãos que sempre aparecia onde a gente estava, mas eu não sabia onde ele morava, pegamos um ônibus e quando descemos em uma parada, andamos ainda quase vinte minutos até chegar no pé de um morro; meu irmão me levou até um quiosque que parecia um barzinho, mandou eu sentar, foi até o balcão e pediu uma cerveja e um copo, e depois de me servir a cerveja me disse;

- Mano fica aqui tomando essa cerveja, que vou ali só comunicar os meninos da segurança e já volto.

Nessa época seu Valdemar usava um bigode duro e cheio que lhe dava uma aparência de cana e que mal comparando parecia o bigode do diretor geral da polícia federal, na época Romeu Tuma. Foi exatamente isso que meu pai pensou; - Meu irmão foi avisar os caras da pesada que comandam o morro, que estaria subindo comigo e que eu seria seu irmão.

- Depois de quase meia hora, meu irmão voltou, eu até tentei fazer ele tomar uma cerveja comigo, ele então me disse pra deixar pra volta, porque a gente ainda teria que andar um pouco; começamos a subir o morro e depois de umas três paradas pra descansar as pernas, passando por bêcos, pinguelas e degraus, chegamos em sua casa. Um barraquinho dividido em três cômodos pequeno, seu neném ainda engatiando e sua esposa, na cozinha umas três prateleiras com panelas, pratos e copos e um giral para o lado de fora de uma janela.

Seu Valdemar me contou que não sabia como aquele casal vivia naquele barraco, não havia água encanada e era preciso descer quase a metade do percurso que fizeram para encher as vasilhas e subir de novo. Confesso que fiquei cansando só de imaginar o drama.

Ele disse também que depois do almoço, sua cunhada foi lavar as louças no giral, e por descuido um copo caiu, foi bem aí que seu Valdemar se deu conta da altura que estavam, segundo ele, já havia passado mais de 10 minutos e o copo ainda não havia chegado ao chão.

Antes que voltassem, pediu que sua cunhada anotasse seu endereço, e lhe prometeu que iria lhe mandar um presente. Dois dias depois seu Valdemar visitou 4 lojas de moveis para comprar um armário de cozinha, este seria o presente e substituiria aquelas prateleiras, somente na quarta tentativa consegui comprar, os preços eram quase idênticos assim como era idêntica a resposta que ouvia quando passava o endereço para entrega;

- Senhor, infelizmente não entregamos nesse endereço.

Graças a tia de um dos funcionários da loja que também morava no morro o presente foi entregue.

Elton Portela
Enviado por Elton Portela em 13/09/2020
Reeditado em 17/07/2023
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