A Minha Rua

Por Nemilson Vieira (*)

Ao conhecer minha rua em (1969), as suas casas eram tão rústicas, simples, poucas. Quase todas edificadas com adobes em vez de tijolos.

A Rua do comércio foi a segunda que conheci na cidade, a primeira que morei; nela vivi a minha infância e mocidade.

Havia mais verde na minha rua: árvores nos passeios, lotes vagos à espera de futuras edificações.

Há momentos que bate uma vontade daquelas de sair a correr, a brincar na minha rua, nos campos do lugar… De calção e pés no pó. Ver os carros o levantarem ao passarem a mil.

A impregnar os nossos olhos, as roupas, a vegetação, os veículos estacionados, às nossas casas… A mãe sofria na limpeza dos móveis, dos pisos, das dependências do lar…

Menino solto logo conheci outras ruas do lugar. A Sete de

Setembro, B. H. Foreman, Des. Riva Dávia, Rua das Laranjeiras… Eu gostava de todas elas, de igual modo.

A numeração menor da minha rua (a do comércio) começa na Vila Baiana e Termina na região central da cidade; na praça da Matriz.

É cortada por rios principais da bacia hidrográfica da cidade: o Ferreirinha e outros que me fugiu o nome.

Mudou sua nomenclatura algumas vezes, já se chamou Rua da Cascavel. — Pela abundância desse temível animal peçonhento no lugar, à época. É chato mudar o nome que já estamos acostumados por outro. Ao pronunciar o novo há um certo estranhamento.

Os moradores, urbano e rural, se comunicavam e ainda o faz, pela minha rua.

Da nossa casa, na Vila Baiana, eu ouvia o chiado do carro de bois do Bia pino, ao passar pela minha rua, eu corria para ver. — Ele atrás, a tocar os animais, já exaustos da pesada carga dos produtos da roça.

Ao passar pela minha rua, os expressos (ônibus) da Alto Paraíso, disparavam as suas buzinas bem alto! Para o mundo inteiro ouvir; ao chegar ou, sair da cidade. Traziam a alegria e deixavam a saudade aos lugarejos que passavam, além do meu. Monte Alegre, Arraias, Novo Alegre, Combinado…

Parece ser, mas a minha rua não é a primeira do lugar; e sim à Rua 7 de Setembro, dos moradores ilustres.

Pela sua localização estratégica, a minha rua tornou-se um tipo de uma “artéria principal”…

Como no passado, onde os comerciantes mais tradicionais tocaram os seus negócios, sustentaram as suas famílias e educaram os seus filhos, homens de negócio influentes da sociedade ainda se instalam na minha rua.

As lojas comerciais tomaram conta e restaram poucas residências na minha rua. A nossa casa ainda resiste às intempéries comerciais.

Ao longo dos anos a minha rua sofreu algumas modificações nas suas características espaciais.

Percebe-se uma diferença abismal entre a minha rua do passado e a do presente; nas edificações, no aspecto da modernidade…

Nas sucessivas administrações municipais, sofrera algumas reformas… Recebeu calçamento em pedras -paralelepípedos, camadas asfálticas, supressão de elementos arbóreos…

Descaracterizou-se, com relação ao meu tempo de garoto, com isso ganhou mais conforto visual e ares modernos. Melhorou a acessibilidade, dos transeuntes e veículos…

Peço desculpas a minha rua do.passado, mas a de agora se mostra mais bonita e atraente.

Os comerciantes que dominam à Rua do Comércio, na atualidade boa parte deles, continuam a ser de outros lugares (uma característica sua).

Se notabilizam nas mais diversas atividades: supermercadista, venda de veículos, produtos do agronegócio, farmacêuticos, brinquedos, bijuterias, cosméticos, eletrônicos, peças de vestuário…

As suas políticas de preços convidativos, ao ser implantadas, enchem os olhos dos consumidores e dão aos mesmos, as comodidades das suas aquisições. — Tanto aos mais abastados, quanto aos de menor poder aquisitivo.

À minha rua do momento desejo vida longa e muita prosperidade (como a cidade)!

À antiga rua, a minha gratidão pelo que representou e representa, para nós cidadãos do lugar!

Resta-me curtir o saudosismo…

Pois, na minha rua de ontem e de hoje ainda moram, todos os meus parentes reunidos numa só pessoa: a minha mãe.

*Nemilson Vieira de Morais Gestor Ambiental e Acadêmico Literário.

(28:10:19).