CAMPINA DAS CAMPINAS DO ARVOREDO

"Estimado e querido amigo. Li emocionado o seu “Queimaduras de Terceiro Grau” num só fôlego. Atentei a todos os detalhes: a imagem de capa, a orelha, agradecimentos, dedicatória, prefácio, homenagem... até o corpo do livro, da primeira à última linha. As suas queimaduras também queimaram fundo em mim e me fizeram arder as marcas e cicatrizes dos meninos e meninas “órfãos de pais vivos” que conheci e aprendi a amar. Senti latejarem os calos no pé esquerdo do menino, desnudo do conga que calçava o pé da irmã. Chorei junto à árvore dilacerada, por seu fruto morto antes da raiz, seus galhos ceifados. Chorei a dor da centenária oiticica, impiedosamente posta ao chão, tragada pela “vã glória” do homem. Embarquei contigo no silêncio da cidade, para estudar à luz da estação, posto que luz adequada em casa não havia, e dormi com teus irmãos nos trilhos do trem. Mas contigo, também, subi a “Escada”, degrau por degrau, até chegar à casa da vó Luzia, abri sua cristaleira de sonhos, comi e me fartei na sua “bonança”, tamanha que era, quase não cabia no trem. Corri nos campos do Sítio Singular, sorvi com os beija-flores o néctar do velho pé algaroba do terreiro de Mestre Cirilo e Dona Aldenora. Habitei, tomei banho de chuva, nadei e mergulhei na “Ilha sem água”. Estilo, critérios técnicos, regras literárias? Perdão! Não conseguir prestar atenção nisso, tão envolvido que fui nos tantos sentidos, lembranças, motivos... jorrados de sua mente alada, a plainar sensibilidade nas noites de insônia. Muito obrigado pelo livro e pela amizade de tantos anos! Grande abraço!"

As observações acima, as quais me deixaram emocionado, foram feitas por um dos ilustres fundadores da Academia de Letras de Crateús, o escritor e visionário Elias de França, sertanejo forjado na lide. São observações feitas após a leitura de um singelo livretinho – queimaduras de terceiro grau – que eu publiquei no ano de 2016. Conheci o poeta em tela ainda na adolescência e sei que para ele não há barreira ou obstáculo que ele não tente transpor.

Meu contato com sua obra foi no “AGIR”, pequeno folheto de meia dúzia de poesias, lançado no tempo das vacas magras. Poeta do oco do mundo, Campina das Campinas do Arvoredo. No teatro precoce já se mostrava alado. Seus versos, prematuramente, já se destacavam no céu formoso das campinas do arvoredo.

Elias é compositor e poeta consagrado, detentor de um vernáculo invejável, orador por excelência. Quando as gerações vindouras revirarem as gavetas da história do nosso município, inevitavelmente se depararão com o acervo deste impoluto pedagogo.

Dotado de extraordinária capacidade de organizar versos, possuidor de memória prodigiosa, espírito inquieto e insaciável, Elias de França possui espantosa habilidade para entrelaçar palavras.

Semeou seus versos não só em lugar de boa semeadura, fez também entre os cascalhos, pedregulhos e espinhos, os quais brotaram abundantemente em corações antes considerados infecundos.

Com livros e rabiscos na mochila e uma enciclopédia na cabeça, peregrinou como se grande franciscano fora, pelas escolas, campos, lutas e lides, distribuindo bençãos de poesias.

Quando um desavisado o fita pela primeira vez, provavelmente já povoa o pensamento com sentimento de desdém ou algo do jaez, haja vista, nosso poeta não ser uma compleição física privilegiada e seu jeito desengonçado deixar transparecer uma personalidade frágil. Ledo engano. Quando lhe dão a palavra, a plateia é arrebatada e aquela criatura aparentemente frágil se revela um verdadeiro guerreiro, um combatente das letras do sertão, um titan das campinas do Arvoredo. E ninguém é capaz de raptar sua princesa arrebatadora: a poesia.

Não há moléstia que dele retire a combatividade espartana arraigada nos cromossomos das palavras e das letras. Encanta os leitores sua obra, sua liderança, simpatia, apego às causas sociais, respeito ao próximo, empatia e capacidade absorver a dor dos seus semelhantes.

Palavras banais ou eruditas, extraídas das mais recônditas profundezes da alma-amada-amante-resolvida, afloram, surgem, brotam como água cristalina em fonte vigem, amor e sensibilidade expressos nos teus manuscritos rabiscados, riscados, traçados como que um cheiro de labirinto adocicado de mato não tocado.

Alber Liberato Escritor
Enviado por Alber Liberato Escritor em 07/09/2020
Reeditado em 07/09/2020
Código do texto: T7056975
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