A MORTE PERDEU A CARONA

Estamos lá pelos anos 90 e assim como seu Valdemar sempre gostou de criar galinhas e as vezes até pato no fundo do quintal, resolvi também criar, fiz um galinheiro, comprei uns pintinhos tipo RODIO, quando adultos serão galinhas de grande porte e poedeiras, com uma ração balanceada própria para postura elas somente põem e não chocam.

Os pintinhos cresceram, viraram frangos e galinhas, lá se passaram quase 5 meses desde a aquisição de meu plantel, cheguei a colher até 12 ovos em um dia. Sempre ao anoitecer quando chegava do trabalho, lá estava eu na rotina diária de conferir minhas penosas e colher a produção. Até que um dia, ao amanhecer tive a ingrata surpresa de ver uma de minhas galinhas, dependurada na cerca de madeira que separava o nosso espaço do delas. O que aconteceu foi aquilo que popularmente chamam de “voo de galinha”, só que nesse caso não era um ditado e sim uma fatalidade. A galinha ao tentar passar para o outro lado, até que voou, mas antes que atingisse a altura da cerca e tentando com a cabeça erguesse para atingir o cume, sua força e sua autonomia de voo se esgotaram, ela então desceu entre as duas ripas e com seu peso acabou perdendo a vida enforcada.

Avisei minha esposa, já lhe convidando para almoçar uma galinha, e pedi-lhe que esquentasse a água para despena-la e trata-la.

Nessa época eu e meu pai éramos quase vizinhos, o que nos separava eram três quadras, apesar de moramos em bairros diferente. Não lhe convidei para o almoço mas levei uma prova da galinha. Assim que cheguei em sua casa e lhe contei a história do suicídio, ele foi logo me dizendo;

- Filho, o pessoal mais antigo lá no Ceará, dizia que devemos sempre criar algum animal em nosso quintal, porque, quando a morte passa e não encontra nada pra levar, leva o dono.

Termino este texto com um trecho da canção “canteiros” de Fagner, quando este ainda era Raimundo Fagner:

E deixemos de coisa

Cuidemos da vida,

Pois senão chega

A morte ou coisa parecida

E nos arrasta moço

Sem ter visto a vida

Elton Portela
Enviado por Elton Portela em 30/08/2020
Reeditado em 17/07/2023
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