QUARENTA ANOS

Quem deseja para si o amor de uma mulher, é costumeiro dar-lhe as coisas que lhes são mais caras com as quais pensa vê-la agradar-se. Deste modo, inúmeras vezes, a ela são ofertadas joias, peças de vestuário de alta costura, pedras preciosas e demais ornatos dignos de grandeza dessa dama. Entretanto, eu que desejo manter conquistada a mulher com a qual tenho o privilégio de conviver por quarenta anos, por isso nos conhecemos tão profundamente, não ousaria ofertar-lhe tais bugigangas, produtos por ela classificados indignos e, da sua altura, jamais voltaria os olhos para baixo de modo a não mirar o autor de tamanha gafe dando a mim, não sem motivo, uma enorme e continuada tristeza.

Na verdade não sou perfeito, nem de longe. Ao contrário, disponho de um sem números de vícios e defeitos e deles faço alarde sem pecha e assim proclamo; sou humano! e humanidade é isso - defeitos ou qualidades, dependendo do ponto de vista sobre o ponto que se quer focar. A vida é feita de conceitos: Conceitua - se os bons e os maus; graduam - se as coisas em belas e feias; conclui- se sobre o grande e o pequeno, classificando de forma dual tudo ao nosso redor, contudo, por mais que achemos estranho uma determinada escolha ou classificação, por certo ela não foi a primeira, nem será a última, alguém já fez antes e outro alguém fará depois.

Como compensação dessa minha falha original, ganhei enorme quantidade de sorte e dela faço uso para me proteger por todos esses anos que vivi. Casamento não é só romantismo, não é apenas ter outra pessoa ao seu lado todos os dias. É compartilhar espaços, intimidades, sensações com o par que lhe acompanha e nessa convivência diária existem convergências e divergências que hora afastam e hora une o casal. Comparando a lonjura da “perfeição de pessoa” que disto, com a proximidade da sorte que disponho, saio no lucro da sorte e a prova disso está na mulher que tenho e divido com ela os meus dias por todos esses anos.

Apresento como presente pela passagem desse feito do casal, não trajes, joias ou adornos milionários, dou-lhe o meu texto assim meio torto, mas certo, para dizer que a amo muitíssimo; que não sei caminhar sem você, pois o nosso percurso foi belo e as poucas paisagens feias que vimos surgir, de alguma forma foram relevadas e conseguimos chegar juntos até aqui. Reconheço a sua tolerância para comigo o que nos leva agora a lograrmos esse prêmio da convivência e diariamente apenas tento demonstrar o tamanho da sua importância para mim, de estar ao seu lado sempre, de continuarmos juntos até o fim te dando também a promessa de que vou lutar dia a dia, para continuarmos assim, contigo lado a lado a mim, para que eu possa te amar sempre.

Junto a esse jogral verdadeiro de palavras minhas, materializo o meu gostar com uma lembrança singela, que tive a coragem de achar que aceitarias de bom grado pelo significado, sendo artigo longemente afastado dos adornos valiosos, antes disso, peça utilíssima para sua monástica missão de empoderar pessoas de seus próprios direitos cidadãos, pois lhe ajudará a marcar com precisão o tempo e indicar as horas, minutos e segundos do período dispendido nesse mister, fazendo restar para mim, muito mais deles. Uma peça que contêm na confecção a concorrência da labuta de trabalhadores explorados pelo capitalismo mas que, com os seus suores, conferem ao objeto, esse sim, valor inestimável.

thiticobomfim
Enviado por thiticobomfim em 15/08/2020
Código do texto: T7036070
Classificação de conteúdo: seguro