APRENDIZADO

Há diferenças entre o ouvir e o escutar?

Entre o entender e compreender?

- Escuto a voz do vento, mas não o ouço falar meu nome.

Compreendo o sentido da vida, porém, não consigo entender.

Escutar para mim é algo intuitivo e ouvir é meditar a palavra para que fique na memória e coração.

É meditar não apenas a língua humana e sim, todas as forma de linguagens.

Compreendendo bem o que querem ou que buscam em mim, entretanto, não entendo porque tem que ser assim?!

Buscando respostas, penso, talvez, seja por causa do “livre arbítrio” de querer ou não amar; querer ou não respeitar, mas até que ponto o meu “livre arbítrio” pode interferir na opinião ou vontade alheias???

-Então!!!

Se há diferenças entre ouvir e falar, Entender e compreender, deve ser porque existe uma predisposição para a aquisição dessas confusas atitudes humanas.

Essa síntese acima, é para explicar o que sinto agora:

-Quando minha mãe me chamava, eu respondia: - Já vou! – mas não ia ver o que ela queria.

Eu apenas “escutava” e não a “ouvia”.

Porém, quando eu escutava as velhas músicas que o meu pai tocava na sua “vitrola” achava ser coisas de velho, hoje, me encontro escutando as mesmas canções que ele ouvia, ouço-as lembrando dele. Vejo os gestos, os traquejos, as palavras, a dança segurando a barriga com uma das mãos... Tudo hoje lembra ele, chego à conclusão que eu mais OUVIA que o escutava.

Hoje, até entendo a sua partida há quatro anos, mas não compreendo porque perdemos tanto tempo brigando e agora nós nos pegamos nas lembranças e saudades dele.

Tornei-me garimpeiro de lembranças, buscando em minhas vagas memórias, momentos que possam compensar o tempo perdido com os conflitos criado pela diferença de geração. Confesso que cada dia fica mais difícil garimpar algo velho que possa ser novo na minha experiência de ser Pai hoje.

Entendi no passado a educação que recebi e mesmo assim fiz pouco esforço de OUVÍ-LO e compreende-lo, e menos ainda em ser empático com ele.

Não entendi porque não fomos próximos, mas compreendo hoje cada palavra dita por ele carregada de “pseudosentimentos” por trás da semântica que representava. Sobretudo, quando escutava que quando me tornasse pai, compreenderia.

Mesmo não querendo entender, sei que eu mais ouvia que escutava, do meu jeito torto e atordoado pela puberdade fervescente, porém, o tempo passou e sua partida chegou e descobrir da pior forma que achamos que o tempo é diretamente proporcional aos nossos anseios e vontade.

Pensamos que em qualquer dia vamos aprender amar mais, perdoar mais e felizmente seremos livres das correntes do passado.

Então, a morte vem e mostra-nos que na verdade somos efêmeros e que só ela é para sempre.

Com sua partida compreendo a necessidade de repeti “EU TE AMO” quantas vezes for preciso, no entanto, não entendo porque pouco ouvi de quem mais precisava ouvir.

Compreendo por conta do livre arbítrio que ninguém é obrigado a dizer o que não sente, nem fingir ou esconder o que sente, porém, é a herança amorosa familiar que ditará o amor que sentiremos por nós e pelos outros, ou seja, somos frutos do amor recebido e doado.

Se há diferença entre ouvir do escutar; entender do compreender mais afrente aprenderemos. Por enquanto vamos seguir por aqui tentando mais ouvir que escutar, mais compreender que entender porque após a nossa passagem ficarão apenas as lições que os nossos filhos ouviram e compreenderam e que ficaram guardados em seus corações... Como uma canção.

Texto: Jordão de Seixas Moraes.

Agosto, 04 de 2020.