COMO DIRIA RAIMUNDO SODRÉ. “NO CABO DA MINHA ENXADA NÃO CONHEÇO CORONÉ”
Hoje é sábado e irei bem sedo para chácara, pretendo chegar antes de seu Valdemar, ele mora próximo em um bairro vizinho e costuma chegar quase que no primeiro canto do galo, quando não resolve dormir por lá.
Cheguei, e ele ainda não está por aqui, mas não demora e já ouço o barulho de sua Kombi. Chegou com toda a família, sua mulher e as três filhas. Ao descer do carro me pergunta se resolvi tomar o café com ele, e entrando no barraco vai até a cozinha e retira do forno do fogão uma vasilha com uma tapioca gigante, bem grossa e do tamanho de uma frigideira média, eu chamo de tapiocão ele chama de bolo do Itu, feita com goma e coco ralado no marisco, me parece que tem até macaxeira cozida na receita, o que sei é que é muito gostoso com café.
Acabei de degustar o bolo do Itu, agora irei armar minha rede e ver o dia passar. Estou me balançando e olhando para o horizonte, parece que hoje nasceu dois sol, o dia está radiante e sedo da manhã o clima já está meio quente, mais tarde estaremos sentindo na pele o que é um calor dos lavrados.
Seu Valdemar me veio fazer um convite, que até tentei recursar, mas fui intimado por ele me dizendo:
- Mandei a mulher preparar uma galinha caipira para gente almoçar meu filho, mas como você sabe, aqui é a casa do bom homem, quem não trabalha não come.
Assim que ele me falou isso, eu então fiquei pensado e me lembrei que na escola do mundo eu não havia perdido aquela aula e lhe respondi:
- Meu pai o senhor sabe quem é o filho do bom homem?
Ele de pronto me respondeu:
- O filho do bom homem é o bom rapaz.
Foi aí que tentei me sair bem, lhe dizendo:
- Também meu pai, mas o pessoal conhece ele mais por bom moço, pra comer ele está bem, mas trabalhar está doente do pescoço.
Ele olhou para mim meio sério e disse:
- Você está ficando meio sabidinho, mais escolha uma daquelas duas enxadas ali, e vamos vê se nós dois até meio dia termina de capinar um pedaço de chão que quero plantar milho pra gente comer pamonha e canjica lá pelos meados de junho ou julho.
E conclui, como sempre com aquele jeito de quem morde e assopra, sempre hilário;
- Filho, quando a gente estiver capinando vou fazer de tudo para não lhe tirar a atenção, porque eu sei como dói mexer no pescoço quando a gente estar com essa dor.
“Hoje é dia dos Pais”
Que D E U S nos Abençoe, Meu PAI