Aromas de infância / Como não pensar em te?
Mãe
Como não pensar em te?
Quando me recordo do cheiro de brasa acesa esquentando o forno para mais uma fornada de biscoitos?
Como não pensar em te?
quando me recordo do cheiro de manga madura no pé, de jaca exposta numa bacia para a criançada e requeijão saindo quentinha do fogo?
Como não pensar em te?
Quando me recordo do cheiro de “fazenda” nova que modelava corpos pequeninos em noite de São João?
Como não pensar em te?
Quando me recordo do cheiro de “óleo Singer”, que lubrificava a velha máquina de costura sempre pronta para mais uma criação?
Como não pensar em te?
Quando me recordo do cheiro de bolinho de chuva salpicado com açúcar e canela, para o café da manhã?
Como não pensar em te?
Quando me recordo do cheiro de dálias, rosas e cravos que coloriam o nosso quintal?
Como não pensar em te?
Quando me recordo do cheiro dos doces de leite, de goiaba, de banana, totalmente naturais, feitos no fogão a lenha?
Como não pensar em te?
Quando me recordo do cheiro de banana frita, sua comida predileta?
Como não pensar em te?
Quando me recordo do cheiro da brilhantina que fixavam meus cabelos ondulados?
Como não pensar em te?
Quando me recordo do cheiro de alfazema que perfumava nossos banhos?
Como não pensar em te?
Quando me recordo do cheiro de livros e jornais espalhados pelos cantos, que satisfazia um hobby, no mínimo curioso?
Como não pensar em te?
Com a lembrança de aromas tão marcantes?
Uma fortaleza , que gerou uma dúzia de vidas!
Mãe
Como não pensar em te, quando me recordo das broncas, dos castigos, das palavras fortes que sempre soavam com tom de ameaças, mas que hoje reconheço a grandeza de cada ato teu para eu ser quem sou?
Eu ficaria horas, dias, relatando toda uma vida como sua filha, ainda assim, seriam insuficientes, são tantos aromas, tantas recordações, tantas vivências!
Impossível de relatar!
Impossível de esquecer.
Foi quase um século distribuindo seus inesquecíveis aromas .
Obrigada, minha mãe!