P E R S O N A G E N S

A poucos interessa a vida das pessoas comuns. Mas sei exatamente que pessoas comuns, vistas de muito perto, são amadas com intensidade por

outras pessoas comuns. São felizes, transpiram, trabalham e fazem pla-

nos. Meu pai e eu somos assim. Misturados à multidão, seríamos dois

exemplares de pessoas comuns. A convivência com meu pai e minha ma-

turidade, naturalmente me fizeram compreender bastante a seu respeito.

Ele sempre gostou muito de escrever. Quando estudante, por volta dos

anos 50, participava ativamente dos jornais estudantis com seus textos

carregados de personalidade. Era um romântico para os dias de hoje e

absolutamente transparente.

Muitas cartas e textos foram escritos à minha mãe. Ela lia e os colocava

em uma malinha, como se ali tivesse guardado um tesouro. Seu senso de

humor, sempre presente em sua escrita, era a sua identidade, a sua assi-

natura. E assim ele continua escrevendo até hoje. É cronista de um jornal

do seu bairro e de certa forma tem se tornado bem conhecido pelas re-

dondezas. E explico porque. Por obra do destino, não se tornou um jor-

nalista. Foi administrar empresas e, através delas, conhecer o Brasil.

Vieram as mudanças, as experiências inesquecíveis e a saudade a nos

ensinar o que fazer com a vida quando estamos distantes de parentes, amigos de infância e comida mineira. Mas mesmo assim, manteve o há -

bito de escrever crônicas para os amigos, irmãos, sobrinhos, netos, so-

gros e toda sorte de gente comum.

Conhecia alguém, ouvia um caso interessante ... pronto, a crônica já estava fermentando seus pensamentos. Sua sensibilidade transforma pe-

quenos "causos" em estórias adoráveis. Ele é capaz de escrever crônicas

para o barbeiro do bairro, o dono do bar da esquina, da padaria, o vizi- ,

nho, os sobrinhos, os netos (seis) e assim por diante, dando a todos eles

o mesmo grau de importância e deferência. Pronto e impresso, o texto é entregue como um presente àquele que o inspirou. E sempre, nessas

ocasiões vi no rosto de cada um que recebia o tal "presente", estampada

a sensação de orgulho de tornar-se alguém especial, merecedor de um

olhar atento e sensível de alguém que vê nas pessoas ... personagens!

Hoje sei claramente que meu pai é um escritor. Um desses tantos que

muitos não conhecem e nunca ouviram falar. Alguém que ama a palavra

escrita e todas as fronteiras que ela pode ultrapassar. Que comove os co-

rações dessas gentes comuns, que lutam, amam e suspiram pelas trans-

formações no futuro. Um escritor generoso que não anda preocupado com a edição de um livro qualquer... Apenas porque entrega em mãos os

textos que escreve aos amigos que cultiva. Ele, o escritor mais generoso

que conheci em minha vida, meu pai, Roberto Rêgo.

-o-o-o-o-

B.Hte., 24/07/20

Obs:- Texto de autoria da minha filha Ana Claudia, a quem chamo sem-

pre de "Princesa".

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 24/07/2020
Reeditado em 27/07/2020
Código do texto: T7015467
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