ATRIZ ANTÔNIA MARZULLO 5

A MORENINHA

Nelson Marzullo Tangerini

Em 1969, Antônia, que um dia teve uma memória privilegiada, comprovada por atores de sua geração, agora apresentava momentos de esquecimento, em virtude da arteriosclerose que a derrotaria com rapidez espantosa, em questão um mês. Ainda assim, fez seu último trabalho em A Moreninha, peça baseada no romance do escritor romântico, Joaquim Manuel de Macedo, ao lado da filha, Dinorah, e sua neta, Marília.

Em casa, Antônia diz para a filha mais velha, Dinah, que estava muito nervosa, porque já não conseguia mais decorar seu texto, como o fazia anteriormente.

Sônia Oiticica, que fez a temporada de São Paulo, contou-me que ficou preocupada com Antônia, que a substituiria no Rio:

“ - Era uma senhora muito idosa e estava com dificuldade para memorizar o texto. Agarrou-se comigo e me pediu que estudasse o texto com ela. Fui bastante atenciosa com Antônia. Fiquei muito sensibilizada com aquela situação, mas procurei entender sua dificuldade”.

Sandra, que conviveu mais de perto com a avó, naquela temporada no Teatro João Caetano, quando acompanhava a mãe e a irmã, diz que Antônia estava bem, apenas cansada, em virtude da idade, e que a atriz era muito querida e muito respeitada por Perry Salles e Zezé Motta e todo o elenco

Trabalharam com Antônia: Marília Pêra (Carolina), Dinorah Marzullo (Dona Violante), Perry Salles (Augusto), Fernando Almeida (Leopoldo), Ricardo Petraglia (Fabrizio), Cláudia Mello (Clementina), Gésio Amadeu (Rafael) e Zezé Motta (Paula).

Assim o jornal Correio da Manhã, na coluna Teatro, em seu 2º Caderno, sábado, 5 de julho de 1969, noticiou o espetáculo:

“O elenco de A Moreninha, de Macedo-Silveira-Petraglia, comédia-musical, de procedência paulista, que estreou na quinta-feira, no Teatro João Caetano, apresenta uma curiosidade inusitada, na presença de três gerações dramáticas em cena, nas figuras de Antônia Marzullo, Dinorah Marzullo e Marília Pêra, respectivamente, avó, mãe e filha”.

Naquele mesmo ano, 1969, Antônia receberia um convite para filmar em Pirenópolis. Chegou a ficar entusiasmada com a possibilidade de conhecer Goiás. Estava de malas prontas e chegou até a pensar em viajar com seu afilhado e neto mais velho, Nirton. Mas não chega a viajar. Para complicar, teve um acidente vascular cerebral e entrou em coma, na casa de sua filha mais velha, Dinah, em Piedade, onde estava morando.

A atriz, que nasceu e viveu parte de sua vida em Santa Teresa, costumava dizer que gostaria de morrer no bairro onde nascera. Depois de uma busca por hospitais em todo o Rio de Janeiro, a família encontra internação no Hospital Santa Cristina, em Santa Teresa, onde vem a falecer no dia 25 de agosto de 1969, deixando viúvo José Pinto da Costa, seu segundo marido.

Fragmento do livro ‘Antônia Marzullo, uma atriz que falava com os olhos”, de Nelson Marzullo Tangerini.

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 28/06/2020
Reeditado em 30/06/2020
Código do texto: T6990790
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