JOCA FOI UM GRANDE INTELECTUAL BAIANO
Durval Carvalhal
Durval Carvalhal
“Minha única certeza é minha morte.
Virá festiva, com pendões vermelhos,
Provocadora com seu riso forte.
Mas me verá de pé, não de joelhos...”
Virá festiva, com pendões vermelhos,
Provocadora com seu riso forte.
Mas me verá de pé, não de joelhos...”
Décadas atrás, peguei algumas disciplinas na FACOM - Faculdade de Comunicação da UFBA na condição de aluno especial, e me chamou a atenção a maneira carinhosa, com a qual professores falavam do professor Joca.
Tempos depois, na mesma condição de aluno limitado, cursei disciplinas do mestrado em literatura na mesma universidade. Em uma delas, Joca, João Carlos Teixeira Gomes, jornalista, professor, cronista, ensaísta, poeta e acadêmico proferiu uma conferência sobre o bardo Gregório de Mattos.
Como tinha que apresentar um trabalho no final da matéria, escolhi escrever sobre o “Boca do Inferno”, e pedi ajuda ao mestre João Carlos. Extremamente solícito, pediu-me que fosse ao seu escritório situado no Pelourinho, bairro turístico, no Centro Histórico de Salvador.
Em lá chegando no dia e hora aprazados, fui alvo de uma boa vontade rara e elegante. O mestre deu-me todas as coordenadas e sugeriu que lesse também o livro de sua autoria: “Gregório de Mattos, o Boca de Brasa”.
Como velho assinante do jornal “A Tarde”, acostumei-me a ler sabatinamente seu esperado artigo, rico de belos argumentos e imagens, que chegavam a emocionar.
Não pude ir ao lançamento do seu livro “O Labirinto de Orfeu, Teoria e Prática do Soneto”. Dias depois, fui a livraria adquiri-lo, mas tinha esquecido o título. Disse ao vendedor que a obra tinha sido lançada recentemente naquela casa de cultura. Diligente, ele foi ao computador, pesquisou e achou o belo trabalho de Joca. Comprei-o e o li deliciosamente.
Confesso que nos últimos meses, senti a ausência do grande intelectual “Punho de Aço”, que enfrentou, com toda galhardia, o temível ex-governador e ex-senador Antônio Carlos Magalhães, ACM, a quem dedicou formidável biografia: “Memória das Trevas”. Sem dúvida, ao jornalista e poeta, não se encaixa o verso de Dante: “é que tua alma cede à covardia”.
Mas, tudo na vida tem seu prazo de validade. Nada é eviterno. A existência humana tem um quê de fugacidade e imprevisibilidade. Em algum momento, chega-se ao fim do fim. E em 18/06/2020, o coração do gigante homem, que nascera em 09/03/1936, parou de bater ainda aos 84 anos de idade, deixando a intelectualidade baiana triste e órfã.
Não lerei mais seus novos livros, seus novos versos, suas novas narrativas, suas novas ideias. Contentar-me-ei em ler e reler suas preciosidades intelectuais, sempre cheias de graça, leveza, criatividade, sarcasmo, ironia e belas imagens.
Foi sarcástico até com a morte, dedicando-lhe o belo e inteligente soneto:
Soneto da morte sem susto: http://www.releituras.com.br/jocagomes_mortesusto.asp