ATRIZ ANTÔNIA MARZULLO / ENTREVISTA
TEATRO DA PAZ SITUADO
NO ANTIGO LARGO DA PÓLVORA FRENTE
Em 1959, Antônia é entrevistada pela revista Radiolândia:
“AFIRMA ANTÔNIA MARZULLO:
‘MEMÓRIA NÃO TEM IDADE’
Há trinta e cinco anos Antônia Marzullo decora “scripts” e, ainda hoje, suas jovens colegas invejam sua fabulosa memória”.
Texto de Lysa Castro
Fotos de Orlando Câmera
Quem disse que a vida artística não se coaduna com a vida conjugal, e que os filhos interrompem qualquer carreira teatral, engana-se. Antônia Marzullo, a popular “Rosa” do programa “D. Jandira em busca da felicidade”, aí está como exemplo edificante de que se pode ser esposa, mãe, sogra e avó sem deixar de ser artista.
Figura modesta, gentil, dona de um rosto simpático, que recusa terminantemente a tristeza, Antônia Marzullo é estimada pelos colegas e pelo público.
Marzullo, como é conhecida nos meios artísticos, lembra um pouco do seu passado, e isso, aliás, não lhe é difícil, pois sua memória é seu forte indiscutível. Lembra-se de que começou como corista (no seu tempo não havia a expressão “girl”, era corista, mesmo) em 1924, no teatro de revista. A seguir, fez toda espécie de teatro, menos ópera; não dava para o canto. Por fim, fixou-se na comédia. Marzullo aderiu e atuou longo tempo na Nacional e na Guanabara. Atuou ao lado dos mais famosos artistas nacionais; Nicette Bruno e Aimée foram suas mais constantes companheiras de rádio,. Quando se inaugurou a TV Continental, Antônia Marzullo já estava escalada para o primeiro programa de teleteatro. Sobre suas emoções, ela disse:
- várias têm sido minhas emoções nesta longa carreira de teatro, rádio e televisão. Uma das quais, ainda hoje lembro com arrepios, foi quando irrompeu a Revolução de 1930, no Estado do Pará. A minha Companhia estava atuando no Teatro da Paz, situado no antigo Largo da Pólvora, e eu me encontrava no palco, quando estourou a notícia; público e artistas entraram em pânico. Eu me hospedara num hotel situado por trás do Palácio do Governo, ponto visado pelos revoltosos. Foi o maior susto da minha vida.
- Tendo vida tão entregue ao teatro, como conseguiu se casar?
- Quando o destino quer, nada impede a realização de seus desígnios e, assim, não houve dificuldade. Casei-me com um homem excelente. Vivemos uma vida normal, sem rusgas. Sou mãe de três filhos, e Dinorah Marzullo seguiu meus passos, sendo hoje elemento de destaque da Cia. Silva Filho, na peça “De Cabral a JK”, tendo dois genros , um jornalista, Nestor Tangerini, e o outro comediante conhecido, da Rádio Nacional, Manoel Pêra. Destes filhos, possuo oito netos e quase me sinto bisavó, pois uma de minhas netas está de casamento marcado para o mês corrente.
- Há alguma peça de sua predileção?
- Duas peças no teatro marcaram minha carreira. Foram: ‘As árvores morrem de pé” e ‘Senhora’. Quando estreei na Televisão Tupi, Iglésias escreveu, especialmente para mim, na peça ‘Chuvas de verão’, um ótimo papel talhado para o meu tipo.
Antônia Marzullo não sabe atribuir a excelência de sua memória; aliás, acredita mesmo que seja tudo uma questão de de prática, pois, às vezes, precisa decorar 4 programas por semana, e enquanto seus jovens colegas ‘bancam os loucos, pelos ângulos dos bastidores, ela faz algumas leituras e logo está apta a repetir suas falas no vídeo. Decorar papeis é o pesadelo da maioria dos artistas de televisão. Antônia Marzullo, entretanto, com seus trinta e cinco anos de atividades artísticas, não sente o peso dos anos confirmando sua própria afirmação de que ‘memória não tem idade’.”
Foi preciso fazer uma revisão de texto na entrevista acima. Talvez, porque um dos genros tinha Pêra como sobrenome, a jornalista resolveu escrever que o outro era Tangerina.
Como de costume, a jornalista escreveu o sobrenome da atriz, Marzullo, com apenas um L.
Sabemos, também, que a atriz pisou no palco pela primeira vez em 1920, quando estreou como corista no Circo Dudu.
A neta de que Antônia fala é Marília Pêra, que se casaria no mês seguinte com o ator Paulo César da Graça Melo, pais do cantor e ator Ricardo César Pêra da Graça Mello.
Fragmento do livro "Antônia Marzullo,
a atriz que falava com os olhos",
de Nelson Marzullo Tangerini, neto da atriz.